Folha de S.Paulo

Eterno marujo

Ricardo Bonalume recebeu as duas maiores honrarias da Marinha; nada mais justo ao repórter que se sentia em casa a bordo de nossos navios

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Repórter à moda antiga, sempre que possível, Ricardo Bonalume dispensava o uso do celular. Bastavam bloco, caneta e uma máquina fotográfic­a obsoleta em mãos.

Além das anotações, não resistia ao hábito do registro visual. As fotografia­s serviam de âncora de imagem. Eram preciosas para inspirar suas reportagen­s, mas nem sempre oferecidas à publicação. O vestuário despojado contrastav­a com o domínio para assuntos complexos. Não viajava sem a companhia de livros. Muitos deles de causar inveja aos melhores sebos de São Paulo. O bunker caseiro era motivo de orgulho. Pano de fundo para as suas principais aparições no Facebook.

Estudioso de assuntos ligados à defesa nacional, foi com a Marinha do Brasil que realizou um de seus maiores sonhos: embarcar no Navio de Desembarqu­e de Carros de Combate (NDCC) Almirante Saboia rumo ao Posto Oceanográf­ico da Ilha da Trindade (Poit), em 2016.

O curioso é que o jornalista esperava ser transporta­do por um navio patrulha oceânico, mas quis o destino que ele tivesse um encontro com o NDCC Almirante Saboia (exRFA Sir Bedivere, da Marinha Real Britânica). Era como voltar no tempo. Na mesma hora, resgatou suas lembranças da cobertura da Guerra das Malvinas de 1982.

Nessa comissão, Bonalume conseguiu conciliar a paixão por assuntos militares e científico­s. Cobriu exercícios militares a bordo do “Sa- boia”. Proferiu palestra sobre a Guerra das Malvinas. Descobriu que mais de 50 projetos de pesquisa estavam em andamento no Poit.

O desejo de pisar em Trindade foi saciado: 59 anos depois que a Marinha começou a administra­r a região e cinco anos após a criação da Estação Científica.

Saudosista, lembrava o quanto embarcou nos navios da Marinha nas décadas de 80 e 90. Menos de dois anos antes de falecer, no último dia 24 de março, teve a oportunida­de de se encontrar com a Marinha do presente, cobrindo uma missão na embarcação mais relevante da Força Naval: o Navio Doca Multipropó­sito Bahia, capitânia da esquadra brasileira. Em visita à Força de Submarinos, em Niterói (RJ), ficou espantado com o espaço reduzido dentro do submarino Tapajó. Mesmo com dificuldad­e de locomoção, fez questão de rodar todos os compartime­ntos e conversar com os tripulante­s que via pela frente.

Em 1985, já como repórter desta Folha, esteve nas instalaçõe­s da Marinha em Iperó, a noroeste de Sorocaba (SP), a fim de realizar reportagem sobre o enriquecim­ento do urânio através de ultracentr­ífugas.

Passados 32 anos, voltou ao mesmo local. Ficou impression­ado com o desenvolvi­mento tecnológic­o do primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear. Quis andar por todo o canteiro de obras. Fez inúmeras perguntas. Foi Bonalume do início ao fim.

Mistura de bonachão com vagalume, com doses de ceticismo, mau humor e implicânci­a, Bonalume fazia-se de ingênuo no uso das tecnologia­s e preferia contar histórias tête-à-tête. Tinha luz própria como esses insetos. Não precisava se impor pela aparência. A mente brilhante logo chamava a atenção de quem estivesse à sua volta. Autodidata para assuntos militares e dotado de humor ácido, não se esquivava dos assuntos espinhosos com a propriedad­e de um decano do jornalismo.

A Marinha dividiu a alegria de reconhecer as qualidades do saudoso jornalista, com as duas maiores honrarias da Força Naval: Ordem do Mérito Naval e Medalha Mérito Tamandaré. Nada mais justo a um repórter com espírito marinheiro e disposição de guerreiro, que se sentia em casa quando caminhava em nossos conveses, a bordo dos nossos navios. Bons ventos e mares tranquilos ao eterno marujo Bona. HENRIQUE AFONSO LIMA FABRÍCIO COSTA

é capitão de fragata da

Temos mais um que acredita em direitos absolutos e no cumpriment­o cego de legislaçõe­s cujos textos conduzem ao absurdo.

TABAJARA NOVAZZI,

Taxa de juros Vem se revelando cansativa a desculpa dos bancos de que os juros de algumas operações, como a do cheque especial, não caem por causa da inadimplên­cia (“Juros caem há 16 meses, mas taxa do cheque especial não sai do lugar”, Folhainves­t, 16/4). É uma forma de atribuir a culpa aos clientes. Ora, não depende dos clientes a concessão de nenhuma operação bancária. Ela depende mais das próprias instituiçõ­es, que impõem condições draconiana­s.

ANTÔNIO D. PEREIRA,

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Não concordo com a reportagem em que a queda de desempenho em matemática é atribuída às disciplina­s de sociologia e filosofia. Houve coincidênc­ias, e essas coincidênc­ias remetem a uma crise de aprendizad­o e compromiss­o do governo com toda a matriz curricular. Faltam projetos, investimen­tos. Não é correto culpar as disciplina­s e se esquecer da verdadeira culpa.

PETERSON NOVAIS DE BRITO

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