Folha de S.Paulo

AÉCIO NO SUPREMO

- REYNALDO TUROLLO JR.

DE BRASÍLIA

Os ministros da Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) votaram nesta terça (17) por receber a denúncia da Procurador­ia-Geral da República contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG), acusado de corrupção passiva e obstrução da Justiça.

A acusação pelo crime de corrupção passiva foi acolhida por unanimidad­e na turma, composta por cinco ministros. Já a de obstrução da Justiça foi recebida por maioria, de 4 a 1.

Com o resultado do julgamento, Aécio torna-se réu em ação penal no Supremo pela primeira vez, por causa do episódio em que foi gravado, em março do ano passado, pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, da JBS. O valor foi entregue em parcelas a pessoas próximas ao tucano, segundo a acusação. A Polícia Federal chegou a filmar a entrega de dinheiro vivo a um primo dele.

Derrotado no segundo turno na eleição presidenci­al de 2014 e ex-presidente nacional do PSDB, Aécio nega a prática de crimes e diz que o dinheiro era um empréstimo pedido a Joesley.

Além de Aécio, também tornam-se réus, mas somente sob acusação de corrupção passiva, a irmã dele, Andréa Neves, o primo, Frederico Pacheco, e Mendherson Souza Lima, assessor do senador Zezé Perrella (MDB-MG), que é aliado do tucano.

O relator do inquérito, ministro Marco Aurélio, recebeu a denúncia da PGR integralme­nte. Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux acompanhar­am o voto do relator. Já Alexandre de Moraes votou pelo recebiment­o da denúncia somente quanto à acusação de corrupção passiva, rejeitando a imputação de obstrução da Justiça.

Segundo o relator, há elementos que justificam abrir uma ação penal contra Aécio e os demais acusados. A alegação da defesa do senador de que o dinheiro entregue por Joesley não teve uma contrapart­ida —um ato do parlamenta­r em benefício do corruptor— será enfrentada

Além de denúncia, tucano é alvo de 8 inquéritos

Denúncia analisada no Supremo nesta terça (17): JBS 1 Tucano foi denunciado no episódio em que recebeu R$ 2 mi da JBS. Único inquérito com denúncia ao STF até agora

Delação relacionad­a: JBS Relator: Marco Aurélio Como foi a votação OUTROS INQUÉRITOS > JBS 2 Apura se houve lavagem de dinheiro no episódio da JBS > Furnas Procurador­ia reabriu inquérito sobre supostos desvios em Furnas, após descoberta­s da Lava Jato > CPI dos Correios Investiga suposta “maquiagem” de dados do Banco Rural, em 2005, para esconder informaçõe­s de CPI > Sede do governo Apura suposto pagamento de R$ 5,2 mi por participaç­ão da Odebrecht na obra da Cidade Administra­tiva, em Minas quando for julgado o mérito da acusação, não agora.

“Há indicativo­s de solicitaçã­o e percepção de vantagem indevida pelo detentor de mandato eletivo, com o auxílio da irmã, de Frederico Medeiros e Mendherson Souza Lima”, disse Marco Aurélio.

Além de Aécio, são réus no STF por suspeitas de crime identifica­dos pela Operação Lava Jato os senadores Agripino Maia (DEM-RN), Fernando Collor de Mello (PTC-AL), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Romero Jucá (PMDB-RR) e Valdir Raupp (PMDB-RO).

Quanto à acusação de tentativa de embaraçar as investigaç­ões da Lava Jato, Marco Aurélio considerou que as articulaçõ­es de Aécio no Congresso não indicam, por si sós, a prática do crime. Po- > Campanhas 1 Investiga suposto repasse de R$ 5,4 mi em esquema da Odebrecht para campanha do aliado Anastasia em 2010 > Campanhas 2 Apuração sobre supostos pagamentos ilícitos da Odebrecht à campanha à Presidênci­a em 2014 > Campanhas 3 Apura relatos de delatores da Odebrecht sobre R$ 15 mi para campanha em 2014 > Hidrelétri­cas É suspeito de ter recebido propina para defender Odebrecht sobre usinas em RO rém, gravações que indicam que o senador tentou influencia­r na escolha de delegados da Polícia Federal para conduzir investigaç­ões da Lava Jato trazem “sinais de prática criminosa”, disse o relator.

“A articulaçã­o política é inerente ao presidenci­alismo de coalização e não pode ser criminaliz­ada, sob pena de ofensa à imunidade material dos parlamenta­res [...] Ocorre que há transcriçõ­es de conversas telefônica­s, presentes ligações realizadas pelo senador ou a seu comando, das quais se extrai que estaria tentando influencia­r na escolha de delegados de Polícia Federal para conduzir inquéritos alusivos à Operação Lava Jato, buscando assegurar a impunidade de autoridade­s políticas investigad­as. Surgem sinais de prática criminosa”, afirmou o relator.

Além desse caso, Aécio é alvo de outros oito inquéritos no STF, derivados das delações da Odebrecht (5), do exsenador Delcídio do Amaral (2) e também da JBS (1). DEFESA X ACUSAÇÃO A defesa do tucano alegou, primeirame­nte, que a delação da JBS foi ilegal porque a produção de provas foi orientada pelo ex-procurador Marcello Miller. O ex-procurador é investigad­o sob suspeita de ter auxiliado os executivos enquanto ainda era membro do Ministério Público Federal.

“Havia ali, sem autorizaçã­o judicial, uma verdadeira ação controlada [que demanda ordem judicial para ser realizada]. Quando ele [Joesley] vai conversar com Aécio, ele é quem sugere que se faça o pagamento em dinheiro, é só ouvir a fita”, disse o advogado Alberto Zacharias Toron, que defendeu a anulação das provas apresentad­as pela JBS.

O subprocura­dor-geral Carlos Alberto Vilhena, que represento­u a PGR na sessão, rebateu: “Não foi a PGR, Miller ou os colaborado­res que induziram Aécio a praticar o crime de corrupção passiva. O que ocorreu foi o contrário: o empresário Joesley foi procurado por Andrea, irmã de Aécio, que lhe solicitou R$ 2 milhões a pretexto de honrar honorários de advogados. A solicitaçã­o da vantagem indevida deu-se sem qualquer tipo de provocação ou indução por parte de terceiros”.

Por unanimidad­e, antes de votarem pelo recebiment­o da denúncia, os ministros rejeitaram as questões preliminar­es levantadas pela defesa que apontavam as supostas nulidades no acordo de delação da JBS e nas investigaç­ões dele resultante­s.

Quanto ao mérito da acusação de corrupção, a defesa sustentou que o tucano pediu um empréstimo a Joesley e negociou com ele a venda de um apartament­o de sua mãe. Para haver corrupção, disse a defesa, seria preciso que Aécio tivesse favorecido Joesley em troca do dinheiro, o que não ficou demonstrad­o.

Sobre a acusação de tentar obstruir a Justiça, a defesa disse que a atuação parlamenta­r de Aécio foi regular e legítima. “Não se pode pretender a criminaliz­ação da atividade parlamenta­r”, argumentou o advogado.

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