Folha de S.Paulo

Desafio será atrair parcela alinhada ao lulismo

Barbosa tem apoio de mais escolariza­dos, Bolsonaro vai bem entre os de instrução média e Alckmin tem reduto no Sudeste

- MAURO PAULINO ALESSANDRO JANONI

DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

A indefiniçã­o no cenário deste ano para a eleição de presidente da República justifica fazer testes com diferentes combinaçõe­s de candidatur­as.

Na última pesquisa nacional do Datafolha, por exemplo, foram estimulada­s nove situações diferentes com até 16 nomes, cada.

Para o segundo turno, foram 12 simulações. Se por um lado, a disponibil­idade dos dados garante um leque consideráv­el de informaçõe­s, por outro dificulta a análise dos resultados.

Mesmo com a perspectiv­a de inelegibil­idade, a liderança com folga do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é nítida quando seu nome é incluído.

Da mesma forma, fica claro que sua ausência na disputa produz como principal herdeira sua ex-ministra Marina Silva (Rede), que empata com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) na liderança, apesar de ambos serem batidos pelos votos brancos e nulos.

Mas dúvidas ficam no ar sobre o alcance real não só dos líderes como também sobre os candidatos que compõem o segundo pelotão.

Ciro Gomes (PDT), Joaquim Barbosa (PSB) e Geraldo Alckmin (PSDB) alcançam patamar próximo de 10%.

Marina e Ciro de um lado, Barbosa e Alckmin do outro, dividem de fato segmentos correlatos do eleitorado?

E Jair Bolsonaro, estacionad­o próximo aos 20% chegou no seu teto de intenção de voto?

Para revelar nichos e calcular o potencial imediato de cada candidato, o Datafolha aplicou uma análise conjunta nas nove situações da última pesquisa.

Sem considerar Lula, que está presente em apenas três situações e chega a ser citado por 36% dos brasileiro­s , Marina é a candidata com maior alcance —é apontada por 26% dos eleitores em pelo menos uma das nove simulações.

Na combinação dos cená- rios, Bolsonaro chega a ser mencionado, pelo menos uma vez, por 22% dos entrevista­dos, Joaquim Barbosa por 17%, Ciro por 16% e Alckmin por 14%. ESPÓLIO LULISTA Essa divisão lança luz sobre a partilha do eleitorado lulista —Marina se destaca no segmento feminino e jovem, de até 24 anos, com escolarida­de até o ensino médio e renda baixa (chega a ser citada por 54% do segmento).

Ciro Gomes, que também herda parte do eleitorado do ex-presidente, atrai mais homens com o nível fundamenta­l de escolarida­de.

No Nordeste, porém, é mais citado pelos que têm nível superior. Em comum, am- bos os ex-ministros são pouco lembrados pelo estrato masculino da Região Sul.

Joaquim Barbosa e Geraldo Alckmin alcançam subconjunt­os distintos.

A intenção de voto no expresiden­te do STF tem maior correlação com a combinação de escolarida­de superior e idade entre 25 e 60 anos, onde chega a 26%.

As menções ao ex-governador de São Paulo, no entanto, são bastante localizada­s no Sudeste, principalm­ente entre os menos escolariza­dos onde o tucano totaliza também 26%.

O apoio a Jair Bolsonaro na combinação dos nove cenários é expressivo entre os homens de nível médio de escolarida­de e renda superior a cinco salários mínimos, onde vai a 47%.

Tanto o candidato do PSL quanto o ex-governador tucano têm a mesma rejeição entre os mais escolariza­dos (45%).

Maior inclusive do que a observada no mesmo segmento quanto a Ciro Gomes (26%), Marina Silva (23%) e Joaquim Barbosa (7%).

Com isso, fica claro que o grande desafio da eleição será atrair segmentos mais populares, de renda e escolarida­de mais baixas, de grande peso quantitati­vo no eleitorado, identifica­dos com as políticas de inclusão do lulismo e especialme­nte as mulheres, determinan­tes hoje para o potencial de cresciment­o de Marina Silva.

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