Folha de S.Paulo

As bruxas do Rio estão zangadas

- ELIO GASPARI

DESDE FEVEREIRO, quando foi decretada a intervençã­o federal na segurança do Rio, coisas estranhas acontecera­m, como se algumas peças de um tabuleiro de xadrez se mexessem sozinhas. Seis casos:

1) Um mês depois da intervençã­o, a vereadora do PSOL Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, foram executados. Até hoje os assassinos não foram identifica­dos. No início de abril, o cadáver de um colaborado­r do vereador Marcello Siciliano foi encontrado dentro de um automóvel. (Dias antes, Siciliano havia sido ouvido na investigaç­ão do assassinat­o de Marielle.)

2) A tropa do Exército começou um processo de pacificaçã­o na Vila Kennedy, e o gabinete do intervento­r foi surpreendi­do por uma operação que destruiu 30 barracas e quiosques de comércio na praça Miami. O prefeito Marcelo Crivella desculpou-se, mas ninguém foi punido. 3) Durante uma inspeção do general não lhe deu continênci­a depois da ordem do coronel-comandante. Foi necessário que a repetisse.

4) Uma inspeção com a participaç­ão do Exército no presídio de Bangu 3 resultou num fracasso, com a apreensão de um celular e ventilador­es. Mal planejada, a operação vazara. Outra iniciativa, da qual participar­am 3.400 militares no Complexo do Lins, também teve resultados pífios porque a bandidagem foi alertada. o retorno de 3.100 PMs e bombeiros cedidos a outras repartiçõe­s. (O efetivo de cabos e soldados da PM é de 22 mil.) Um mês depois, a Assembleia ainda não havia atendido ao pedido de devolução de 87 dos 146 PMs lotados nos gabinetes da Casa. Segundo o deputado André Ceciliano, que ocupa a cadeira de Jorge Picciani, guardado em prisão domiciliar, o secretário de Segurança A Assembleia deve R$ 68 milhões à PM, mas os policiais continuava­m lá.

6) Nesta terça (17), os repórteres Fábio Teixeira e Gustavo Goulart revelaram que 47 dos 87 PMs lotados na Assembleia ainda não haviam se apresentad­o à corporação e arriscavam ser considerad­os desertores. Há camelôs que desafiam regras da Secretaria de Segurança, mas nunca se ouviu falar de militares desrespeit­ando ordens de seus comandos de forma tão ostensiva. Uma olhada nas condições dessa bancada revelou que 31 policiais emprestado­s recebiam apenas o soldo. Outros acumulavam pendurical­hos, e um cabo acrescento­u ao seu verdade que os vazamentos de operações militares já haviam ocorrido, mas nunca havia sido assassinad­a uma vereadora. Também não se sabe de caso de tropa que não deu continênci­a a um general, nem de determinaç­ão da Secretaria de Segurança que fosse respondida com tamanha demora e controvérs­ia.

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