Folha de S.Paulo

Amigos e acadêmicos exaltam legado de Paul Singer

Morto na segunda aos 86 anos, foi um dos fundadores do PT e desenvolve­u teoria da economia solidária

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Lideranças do PT e acadêmicos estiveram na manhã desta terça-feira (17) no velório do economista Paul Singer, no Cemitério Israelita do Butantã. Um dos fundadores do partido, Singer morreu na noite de segunda (16), aos 86 anos, em São Paulo.

“Ele foi a pessoa mais generosa que conheci. Esteve sempre disponível para as mais variadas tarefas, muito atencioso com seus alunos. Era um professor no sentido pleno da palavra. Foi meu orientador na Faculdade de Economia da USP”, disse Fernando Haddad (PT), ex-prefeito de São Paulo.

Da vasta produção de Singer, o ex-prefeito destacou os trabalhos relacionad­os ao conceito de economia solidária. “Ele esteve sempre em busca de formas alternativ­as de organizaçã­o da produção. Queria expandir as possibilid­ades de o trabalhado­r se desenvolve­r”, declarou.

No livro “Introdução à Economia Solidária” (2002), Singer defende que precisamos de uma economia solidária, e não competitiv­a, para termos uma sociedade em que predomine a igualdade entre todos os seus membros.

A atuação teórica e militante de Singer foi relembrada pelo filósofo José Arthur Giannotti, ex-presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamen­to), que destacou a antiga amizade entre os dois.

“Nos conhecemos nos anos 1950, no grupo de estudo de Marx. Ele foi dali um dos mais militantes, que punha mesmo a mão na massa. Eu sempre fui mais da teoria”, declarou.

Embora tenha se tornado um intelectua­l mais próximo do PSDB, enquanto o economista alinhou-se aos petistas, Giannotti afirmou que as diferenças políticas nunca afetaram a relação entre eles.

“Havia esse desacordo político entre nós. Então quando nos víamos tratávamos de ou- tros assuntos. Jovens falam de mulher, velhos falam de livros”, contou.

Presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto declarou que a morte de Singer foi uma perda gigantesca não apenas para o PT, mas para todo o país. “Era uma pessoa muito doce, muito amigável. Num mundo tão intolerant­e, é uma perda gigantesca.”

Okamotto também afirmou que a notícia da morte de Singer certamente deixou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, consternad­o. “Se Lula estivesse livre, ele estaria aqui hoje.”

Ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff, Guido Mantega também louvou o legado acadêmico de Singer.

“Foi uma enorme influência para as gerações futuras. Teve visão de economia solidária em benefício dos mais pobres. Era um exemplo.”

Assessor especial da Presidênci­a da República no primeiro mandato de Lula, Bernardo Kucinski descreveu Singer como “pessoa de bons sentimento­s, que tentou mudar o mundo de modo civilizado”. “Infelizmen­te vivemos um momento em que pessoas como ele são hostilizad­as por serem ligadas ao lulismo.”

André Singer, cientista político e colunista da Folha, declarou que o pai teve profundo amor pelo Brasil e pela justiça social. “Esses dois aspectos formam um bom resumo de sua vida.”

Paul Singer também era pai de Helena e Suzana, editora de Treinament­o da Folha.

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Zanone Fraissat/Folhapress O ex-ministro Guido Mantega com André Singer, filho de Paul Singer, durante o velório

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