Relação Trump-imprensa piora em 15 meses
Amazon, do mesmo dono que o Washington Post, vira alvo; mídia é tema favorito em menções do presidente
Governo se frustra com cobertura, tem pouco compromisso com fatos e acirra polarização, afirmam analistas
Desde que chegou à Casa Branca, há 15 meses, Donald Trump mantém sua relação com a mídia sob estresse. Mas nem no início do mandato, quando chamou alguns veículos de “inimigos do povo”, esse laço esteve tão retesado.
“A relação ficou mais tensa, rancorosa”, diz Pablo Boczkowski, professor da Universidade Northwestern (Chicago) e organizador de um livro sobre a relação do presidente com a mídia.
Nas redes sociais, o presidente falou 204 vezes sobre “fake news” (expressão com a qual designa parte da imprensa). É o maior número de manifestações sobre um assunto, à frente de “China”, “Rússia”, “imigração”, “reforma tributária” e “FBI”.
Surgiu até na repercussão do ataque á Síria, dia 13. “Foi tão perfeito que o único jeito de a mídia fake news diminui-lo foi por eu ter usado o termo ‘missão cumprida’”, afirmou, em alusão à expressão usada antecessor George W. Bush (2001-09) para falar
A mídia tem a confiança de apenas 14% dos republicanos nos EUA, segundo pesquisa do Instituto Gallup. Criticála, ressalta Boczkowski, mantém a base incensada.
Karin Wahl-Jorgensen, especialista em jornalismo e democracia da Universidade de Cardiff (Reino Unido), diz que Trump ajudou a legitimar a raiva como discurso político, catalisando o descontentamento com o establishment.
E parte da imprensa comprou a briga, conclui Boczkowski. “Vocalizar a opinião de parte da população contrária ao presidente pode ser bom para os negócios”, afirma, citando os picos de audiência do início do governo.