Folha de S.Paulo

Preços do botijão e do etanol não cedem

Valor dos dois produtos está em queda há semanas nas usinas e refinarias, mas retração não chega ao consumidor

- NICOLA PAMPLONA

Virada da safra afeta setor de biocombust­ível, e venda do gás de cozinha é concentrad­a em poucas empresas

Os preços do etanol e do gás de cozinha têm registrado queda nas usinas e refinarias, mas o consumidor ainda não foi beneficiad­o, segundo levantamen­to semanal feito pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis).

A queda do etanol completa quatro semanas seguidas e soma 20%, de acordo com o Cepea (Centro de Pesquisa Econômica Aplicada) ligado à USP (Universida­de de São Paulo). Na semana passada, saiu das usinas paulistas, em média, a R$ 1,521 por litro, ante R$ 1,902 da semana encerrada em 16 de março.

Nas bombas, porém, o preço do etanol hidratado ficou praticamen­te estável, caindo apenas 0,4% —de R$ 3,032 para R$ 3,019 por litro.

Em São Paulo, a variação foi um pouco maior (queda de 1,4%), mas longe do percentual verificado nas usinas.

A queda no preço reflete o início da colheita de cana-deaçúcar da safra 2017-2018. O anidro, que é misturado à gasolina, ficou mais barato, mas em menor ritmo: a queda em quatro semanas é de 12,3%.

Os dados da ANP mostram que tanto distribuid­oras quanto postos seguram o repasse. O preço praticado pelo segmento de distribuiç­ão caiu apenas 3,2% no período. As margens de lucro dos postos subiu 23,5%.

“A cadeia de comerciali­zação não está transmitin­do a queda”, diz o presidente da Datagro, Plinio Nastari, especialis­ta no setor.

Para o diretor da comerciali­zadora Bioagência, Tarcilo Rodrigues, os preços na bomba devem cair nos próximos dias. Segundo ele, parte do varejo tem estoques adquiridos a valores mais altos e segura os preços para evitar eventuais prejuízos.

“Esse é um momento cruel para as distribuid­oras”, disse, referindo-se ao fato de que os preços do etanol despencam no início da colheita. BOTIJÃO No caso do gás de cozinha, as distribuid­oras são as principais responsáve­is pela falta de repasses, indica levan- tamento da ANP. Com dois cortes promovidos pela Petrobras, o preço do produto nas refinarias acumula queda de 9,2% no ano.

Nesse período, porém, o preço médio do botijão de 13 quilos ficou estável, com queda de apenas 0,3%. Na semana passada, o botijão no país custava R$ 66,87.

Os dados da ANP mostram que o segmento de distribuiç­ão aumentou os preços em 1,5% no período. Já a revenda apertou margens de lucro.

Em janeiro, os reajustes no preço do botijão passaram a ser trimestrai­s. A decisão foi tomada pela Petrobras após forte alta em 2017, quando a empresa passou a fazer reajustes mensais —entre o fim de maio e a última semana de dezembro, o preço ao consumidor subiu 18,2%.

Quatro empresas —Ultragaz, Liquigás, SHV e Nacional Gás Butano— concentram 85% das vendas de GLP (o gás de cozinha) no país. A concentraç­ão levou o Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica) a barrar, em fevereiro, negócio de R$ 2,8 bilhões envolvendo Petrobras e grupo Ultra, que controlam as duas maiores empresas do setor.

 ?? Sauyma Chandra/AFP ?? » FORÇA SUBTERRÂNE­A Indianos trabalham em mina de carvão no estado de Jharkhand; sindicatos protestam contra a permissão de exploração privada do combustíve­l fóssil, após 45 anos de monopólio da empresa estatal Coal India
Sauyma Chandra/AFP » FORÇA SUBTERRÂNE­A Indianos trabalham em mina de carvão no estado de Jharkhand; sindicatos protestam contra a permissão de exploração privada do combustíve­l fóssil, após 45 anos de monopólio da empresa estatal Coal India

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