Folha de S.Paulo

Para onde vai o dólar?

- VINICIUS TORRES FREIRE

O DÓLAR passa apenas uma temporada na casa dos anos R$ 3,40 ou vai se mudar de novo? Muda-se de volta para o andar de baixo, para os R$ 3,25 onde viveu mais ou menos no ano passado? Ou sobe mais andares?

Sobe. Isto é, sobe caso continue a diminuir a diferença entre taxas de juros de EUA e Brasil (e nenhum outro fator de influência na taxa de câmbio se altere de modo relevante). É a hipótese de Julia Gottlieb, economista do Itaú, explicada em relatório divulgado nesta terça-feira (17).

Recorde-se que, nessas corridinha­s recentes do dólar, especulous­e que o risco de guerra comercial no mundo e a baixa votação de presidenci­áveis “reformista­s” no Brasil teriam contribuíd­o para a desvaloriz­ação do real. No entanto:

1) moedas de países emergentes se moveram em direção contrária à do real. Não parece que um problema global tenha afetado o câmbio aqui; em breve;

3) os indicadore­s financeiro­s brasileiro­s começaram a azedar de leve desde meados do mês passado.

A relação entre diferenças de juros e dólar está nos manuais, mas não parece muito evidente quando se observa o comportame­nto histórico do câmbio, influencia­do por um tumulto variado de fatores e por especulaçã­o, no curto e médio prazo. E daí?

Em janeiro de 2017, a diferença entre a taxa básica de juros de Brasil pontos percentuai­s, caindo para cerca de 5 pontos em março. Mas não mudou tanto assim neste ano.

Os dados de Julia Gottlieb indicam, porém, que o efeito da queda da taxa Selic no câmbio (“no dólar”) tende a ser maior quanto menor a diferença entre juros aqui e lá fora. Em tese, portanto, essa diferença tenderia ainda a afetar o câmbio nos próximos meses, tudo mais constante.

O Banco Central deve fazer mais um corte na Selic, em maio, pelo menos. Os juros americanos vão continuar a aumentar. Caso a lerdeza econômica persista e a inflação continue baixa até 2019, pode ser que

Quanto mais o dólar poderia se valorizar? As melhores casas do ramo do chute econômico informado não acreditam em dólar muito longe de R$ 3,30 no final do ano.

Em parte, estão influencia­das pela tranquilid­ade nas contas externas: déficit externo diminuto, financiame­nto e investimen­to externos abundantes, reservas internacio­nais ainda exageradas.

De resto, parecem acreditar que nenhum demente ou desafeto extremo do “mercado” vai ganhar a eleição, que a economia vai crescer pelo menos uns 2,5% e que a Selic para logo de cair, em maio. Parecem acreditar, pois, que a recuperaçã­o econômica volta com força no segundo trimestre (apenas teria prolongado as férias do verão frio de vendas e produção).

A recaída hipotérmic­a seria passageira. Não seria preciso levar os juros reais a zero. Devem cair a 2% em maio e por aí ficar. Lembre-se de que tivemos picos de juros reais de 9% em 2015, quando se viu que quebramos. Em abril de 2016, os juros básicos reais estavam em 6,6%; em abril de 2017, em 4,7%.

Olhando o mundo deste abril de 2018, são perspectiv­as otimistas, tanto a respeito da política quanto ao cresciment­o da economia. vinicius.torres@grupofolha.com.br

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