No país, 4 instituições concentram 78,5% dos empréstimos concedidos
O risco representado pela escolha do novo presidente da República, que pode mudar a política econômica, ultrapassou a inadimplência na lista das principais preocupações dos bancos no Brasil.
Dado divulgado nesta terça-feira (17) pelo Banco Central mostra que 68% das instituições financeiras citaram as eleições como um risco.
A pesquisa, feita em fevereiro deste ano, mostra um salto de dez pontos percentuais dessa preocupação em relação ao questionário anterior feito pelo BC, em novembro do ano passado.
Enquanto isso, a inadimplência, que era citada por 67% dos bancos, caiu para 56% na mesma comparação.
“Temas que até 2015 e 2016 eram os principais citados, como recessão e inadimplência, perdem espaço para o cenário político e o risco fiscal”, observou Paulo Souza, diretor de Fiscalização do BC.
A situação fiscal do país, apesar de se manter como um ponto importante, foi apresentada como um risco por 56% dos entrevistados, uma leve queda em relação aos 59% da última pesquisa.
O número foi divulgado na apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado a cada seis meses.
O BC começou a publicar os dados do questionário sobre risco da forma que é hoje em maio de 2017, portanto não é possível a comparação histórica.
No relatório, o BC informou que não há razões para preocupação com a robustez do sistema financeiro.
Em simulações de situações que poderiam afetar a estabilidade das instituições, a autoridade monetária chegou à conclusão de que os bancos têm condições de fazer frente, com folga, a eventuais choques no caso extremo de uma corrida bancária. GRANDES EMPRESAS O BC informou também que houve alta no percentual de “ativos problemáticos”, ou seja, empréstimos com maior risco de inadimplência, das grandes empresas.
No relatório anterior, essa classificação atingia cerca de 6% das carteiras de crédito, percentual que subiu para 7,2% no fim de 2017.
No caso das pequenas e médias empresas, houve, porém, queda da participação das carteiras de maior risco no total.
“Um dos motivos para isso é que são grandes empréstimos, que foram reestruturados em alguns casos em situação de recuperação judicial. Essas operações, como são maiores, tendem a permanecer mais tempo na carteira dos bancos. É um movimento natural”, disse o diretor do BC.
DE BRASÍLIA
Os quatro maiores bancos do país concentram 78,51% de todos os empréstimos feitos pelas instituições financeiras, informou o Banco Central nesta terça-feira (17).
Essa concentração se mantém no patamar de 78% desde junho de 2016. Há dez anos, segundo dados da autoridade monetária, esse número era de cerca de 54%.
Itáu Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa ainda detêm mais de 72% de todos os ativos bancários e cerca de 76% dos depósitos.
A elevada concentração bancária é apontada como uma das principais razões dos spreads (diferença entre o que os bancos pagam para captar e o que cobram na ponta) elevados no Brasil.
Apesar de a taxa de juros básica da economia, a Selic, estar no piso de 6,5% ao ano, com uma queda de quase oito pontos percentuais desde o fim do ano retrasado, houve pouco efeito nos juros na ponta, ao consumidor.
O diretor de Fiscalização do BC, Paulo Souza, não comentou diretamente o possível impacto da elevada concentração bancária sobre o spread e, consequentemente, as taxas finais.
“O BC tem se manifestado amplamente em relação ao crédito mais barato. Há diversas medidas que julgamos necessárias para reduzir o spread, como cadastro positivo, duplicata eletrônica e uma melhor definição dos compulsórios”, disse o diretor.
Em março, o BC reduziu o percentual dos recursos que os bancos são obrigados a manter parados na autoridade monetária, em uma medida que libera R$ 25,7 bilhões para empréstimos.
Outras medidas na tentativa de baixar os juros na ponta foram as novas regras para o cartão de crédito rotativo, em 2017, e para o cheque especial, ambas costuradas com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
A partir de junho, o conselho de autorregulação da entidade decidiu que consumidores com mais de 15% do limite do cheque especial comprometidos por 30 dias consecutivos terão acesso a uma linha de crédito mais barata para parcelar o valor.
O objetivo da medida foi reduzir o custo do crédito ao cliente bancário e melhorar o uso do cheque especial pelos consumidores, além de diminuir as taxas.
No Relatório de Estabilidade Financeira, a autoridade monetária avaliou o impacto do rotativo como positivo.
“As regras contribuíram para reduzir a inadimplência do cartão de crédito, o que beneficiou potenciais clientes que entrariam em atraso caso não tivessem a opção de parcelar o saldo devedor”, diz trecho do documento.
Nesta terça, o diretor de Fiscalização do BC afirmou ainda que a instituição publicará, em maio, um relatório inédito que aprofundará o debate sobre a concentração.
“Esse relatório deve tornar esse tema mais claro, para ampliar o debate com transparência”, afirmou. (MP)