Esquenta briga por controle da Eletropaulo
Enel faz oferta de R$ 4,7 bilhões pela distribuidora, que suspende acordo assinado na véspera com a Neoenergia
Ações da empresa, a maior do setor na América Latina, sobem 24%; governo federal ganha com disputa
A italiana Enel atravessou acordo feito na segunda-feira (16) entre Neoenergia e Eletropaulo e anunciou nesta terça (17) proposta de compra da distribuidora paulista por R$ 4,7 bilhões, com promessa de aporte extra de R$ 1 bilhão.
A disputa entre as companhias levou a Eletropaulo, que é controlada pela americana AES e pelo BNDES, a suspender o acordo com a Neoenergia, que previa a compra de novas ações por R$ 25,5, cada uma. A distribuidora pediu 15 dias para analisar o assunto.
A Enel ofereceu R$ 28 por ação da Eletropaulo, com a condição de adesão de detentores com ao menos 50% mais um dos papéis. Se todas as ações forem vendidas, serão movimentados R$ 4,68 bilhões. O aporte de R$ 1 bilhão seria feito 60 dias após o fechamento do negócio.
Maior distribuidora de energia da América Latina, com cerca de 7 milhões de clientes, a Eletropaulo é cortejada por outras companhias com atuação no Brasil: além de Enel e Neoenergia, que é controlada pela espanhola Iberdrola, já recebeu propostas também da Energisa.
“Em todos os países em que atuamos, somos o número um ou o número dois. No Brasil, já temos 10 milhões de clientes, mas ainda não estamos entre os primeiros”, disse Carlo Zorzoli, presidente da Enel Brasil.
A italiana controla hoje a distribuição de energia no Ceará, em Goiás e em parte do estado do Rio. “Adquirir a maior distribuidora da América Latina é parte importante de nossa estratégia.”
Com o leilão pelo controle da empresa, as ações da Eletropaulo dispararam na Bolsa e fecharam o pregão em alta de 24,36%. Desde o início do ano, os papéis acumulam valorização de 67%.
A Neoenergia se comprometera a comprar até 80% de um lote de novas ações que seria lançado pela Eletropaulo, o que representaria aporte entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,4 bilhão, dependendo do número de ações vendidas.
O acordo foi feito como resposta a uma proposta anterior da Enel, cujo valor não foi divulgado. Se quiser fazer nova proposta, a Neoenergia terá de oferecer um aumento de 5% sobre o preço proposto pela italiana.
“Estamos muito determinados”, disse Zorzoli quando questionado sobre o interesse em permanecer em um leilão pela Eletropaulo. GOVERNO GANHA A disputa beneficia o governo federal, que detém cerca de 26% do capital da Eletropaulo por meio de investimentos diretos da União e de participação do BNDES, e vê o ativo se valorizar.
Com 18,73% das ações, o BNDESPar, braço de participações do BNDES, pode receber R$ 880 milhões, caso a proposta da Enel seja aceita. A União é dona de 7,97% da companhia e poderia embolsar R$ 373 milhões. A AES é dona de 16,84% do capital.
A Folha não conseguiu falar com a Neoenergia, que controla quatro distribuidoras no país. Em nota, a Eletropaulo informou que está avaliando os termos das propostas e vai divulgar parecer prévio em até 15 dias. A companhia está presente em 24 municípios do estado, incluindo a capital paulista. (NICOLA PAMPLONA)