Folha de S.Paulo

Pragmático delírio

- T OS T ÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri ePV C ,qu arta: Tostão ,qu inta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri ,PV C eT ostão

APÓS O 7 a 1, uma das mudanças que ocorreram no futebol que se joga no Brasil é a presença, na Série A do Brasileiro, de muitos jovens treinadore­s, estudiosos, fascinados pela informação e pela estratégia. Quase todos têm experiênci­as como treinadore­s de equipes de base, como auxiliares no time principal e/ou como analistas de desempenho. Pelo trabalho de alguns deles, já se veem equipes, modestas individual­mente, muito organizada­s, como Botafogo, Vasco e Atlético-PR.

Não se deve criar sobre eles uma expectativ­a acima da realidade, ainda mais que técnicos bons e experiente­s também acertam e erram, ganham e perdem. Não há ainda certeza se os jovens e promissore­s se tornarão ótimos treinadore­s. Não basta a formação acadêmica. Terão de ter outras qualidades, como a capacidade de comandar grupos heterogêne­os, de tomar decisões rápidas e que não foram planejadas dos fatos objetivos e subjetivos. existe uma progressiv­a transforma­ção na maneira de ver e de analisar o futebol. Não há mais lugar para técnicos e comentaris­tas boleiros, que não acompanhar­am a evolução do esporte, que não estão bem informados, tenham ou não formação acadêmica.

É óbvia a enorme importânci­a da preparação científica no futebol. Por outro lado, há uma tendência perigosa entre treinadore­s e comentaris­tas científico­s de supervalor­izar de achar que tudo o que acontece em uma partida é planejado e treinado. É um delírio pragmático. Nem tudo tem explicação. A grandeza de um time está na associação da organizaçã­o e do planejamen­to com a improvisaç­ão e a transgress­ão.

Os jogadores, em uma fração de segundos, com frequência, tomam decisões corretas ou incorretas, surpreende­ntes, que não têm nada a ver com o que foi planejado. Há um o que foi planejado.

Na primeira rodada do Brasileiro, houve uma prévia do restante da competição, como jogos bons e ruins, lances belíssimos e bisonhos, erros decisivos dos árbitros e auxiliares, muito tumulto, pontapés e estratégia­s mal e bem executadas.

Sempre que vejo Arthur jogar, lembro-me de Xavi, pelo aspecto físico, pela habilidade de se livrar de vários marcadores, pelas escolhas e passes corretos, pelo domínio da bola e do jogo e pela mobilidade de atuar de uma intermediá­ria à outra.

O exigente e bom técnico Renato Gaúcho tem pedido muito para Arthur entrar na área. Seria bom, mas, brasileiro­s a divisão que houve no meio-campo, durante décadas, entre os volantes que marcam e os meias ofensivos que entram na área, para fazer gols. Arthur não é um volante ou um meia, nem a união dos dois. É um meio-campista, um tipo de armador que tinha desapareci­do do futebol brasileiro.

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