Folha de S.Paulo

O teatro petista

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A insistênci­a do PT no discurso de que Lula será candidato mesmo encarcerad­o é uma peça de teatro com cada vez menos espectador­es atentos. Uma parcela crescente de eleitores simpáticos ao petista admite que ele não será candidato e se dispersa enquanto aguarda o próximo passo da sigla.

Na semana passada, o Datafolha perguntou quem o petista deveria apoiar caso não esteja na disputa. Entre os eleitores de Lula, 61% indicaram outro candidato espontanea­mente —ou seja, não foram oferecidas opções aos entrevista­dos.

As respostas nesse grupo se pulverizar­am: 19% respondera­m Marina Silva (Rede), 11% mencionara­m Ciro Gomes (PDT) e 7% apontaram Jair Bolsonaro (PSL). Apenas 3% citaram Jaques Wagner e Fernando Haddad, do PT.

Uma boa fatia do eleitorado do ex-presidente (35%) disse não saber quem ele deveria apadrinhar, e só 4% dos lulistas afirmaram prontament­e que ele não deveria apoiar nenhum outro candidato.

Quando o instituto apresentou uma lista de cinco nomes (Marina excluída), 32% dos lulistas disseram que o ex-presidente deveria se aliar a Ciro, 15% optaram por Haddad e 11% indicaram Jaques Wagner. Outros 11% não souberam escolher e 17% disseram que Lula não deveria patrocinar ninguém.

Os números apontam que a corrida só tomará forma —com uma mudança dramática— quando Lula anunciar seu candidato. No segmento que declara voto no ex-presidente, dois terços dizem que seguirão sua indicação “com certeza”.

Enquanto o caminho estiver nebuloso, parte do eleitorado permanecer­á distraída, ainda que pare e olhe as vitrines de vez em quando.

O PT explora essa distração para preservar influência sobre esses segmentos antes que eles façam outras escolhas. Ao repetir que Lula estará na disputa, a sigla tenta interditar a migração do eleitorado até definir seu próprio destino.

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