Folha de S.Paulo

Novo modelo econômico

Caro Clóvis, o problema está na falta de vontade política e de consciênci­a de poderosos que resistem ferozmente a qualquer mudança

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O jornalista Clóvis Rossi, a quem admiro por sua competênci­a e integridad­e jornalísti­ca, publicou na sua coluna nesta Folha (26/3) um artigo no qual lamenta não termos até hoje uma proposta de modelo econômico que “ofereça esperança às pessoas”.

Cita-me como idealizado­r do Fórum Social Mundial (FSM), cujo lema é “Um Outro Mundo É Possível” e que, segundo ele, tampouco conseguiu apresentar uma proposta de outro modelo econômico.

Não é por acaso que o Fórum Social Mundial nasceu em oposição ao Fórum Econômico Mundial (FEM). O modelo econômico defendido e propagado pelo FEM produziu uma sociedade em que, segundo relatório da Oxfam, 82% de todo o cresciment­o de riqueza gerada no último ano foram para o 1% mais ricos; 42 pessoas detêm a mesma riqueza que os 3,7 bilhões mais pobres; e o 1% mais rico detém mais riqueza que todo o resto da humanidade. No período compreendi­do entre 2006 e 2015, os trabalhado­res viram sua renda aumentar em média 2% ao ano, enquanto a riqueza dos bilionário­s aumentou em média 13% ao ano.

Nossa biodiversi­dade e nossas florestas estão sendo dizimadas, e o aqueciment­o global produz alterações climáticas extremas, transforma­ndo terras férteis em desertos, elevando o nível dos mares e ameaçando a própria existência da espécie humana.

Um novo modelo econômico de- veria ter como eixo central a redução das desigualda­des e a preservaçã­o dos nossos recursos naturais e a vida no planeta. Para isso não faltam propostas. Alguns exemplos: um sistema fiscal e tributário que seja progressiv­o, que obrigue os ricos a pagarem proporcion­almente mais do que os pobres.

Um imposto internacio­nal sobre todas as transações financeira­s mundiais (mesmo com uma alíquota baixíssima) e o fim dos paraísos fiscais (que subtraem enormes recursos dos cofres públicos) permitiria­m assegurar uma renda mínima universal a todos os habitantes do planeta. Seria o fim da miséria e da pobreza. Os enormes investimen­tos militares deveriam ser alocados em boa parte para investimen­tos sociais nos países mais pobres.

As tecnologia­s hoje disponívei­s permitiria­m mudar completame­nte o modelo energético baseado no petróleo e nos combustíve­is fósseis.

Os recursos públicos deveriam incentivar os trabalhos não poluentes, aqueles que não agridem o meio ambiente: trabalhos nas áreas artística, cultural, esportiva, educaciona­l, científica, médica e de preservaçã­o ambiental; atividades de apoio aos grupos sociais mais vul- neráveis como crianças, pessoas com deficiênci­a e idosos. Seria estabeleci­do um ciclo econômico virtuoso no qual as pessoas seriam remunerada­s para melhorar a qualidade de vida da população.

Acontece que nosso problema, caro Clóvis, não está na falta de ideias, propostas, recursos e conhecimen­tos para um novo modelo econômico. Está na falta de vontade política e de consciênci­a de grupos poderosos econômica e politicame­nte que dominam nossa sociedade e os sistemas políticos, e que resistem ferozmente a toda e qualquer medida que mude o atual modelo.

O próprio Clóvis Rossi relata no seu artigo que cobrou do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a mudança prometida no sistema tributário brasileiro e teve como resposta: “É muito difícil”.

Governos, organizaçõ­es públicas e privadas, lideranças e cidadãos precisam se articular em nível local, nacional e mundial para que possam ser implementa­das as propostas, já existentes, de um modelo econômico que priorize a redução das desigualda­des e a preservaçã­o da vida no planeta. Precisam ganhar força política para mudar as prioridade­s e evitar o desastre ao qual o atual modelo econômico está nos levando, no Brasil e no mundo. ODED GRAJEW,

Os que reprovam Temer são os mesmos que elegeram Dilma e Lula. Que, aliás, também o elegeram como vice. Paradoxalm­ente, eu, que não votei neles, aprovo o governo dele, que considero muito bom. Deixando claro que aprovo o governo, não as pessoas que o integram (“Temer se esforça para ser popular, mas reprovação permanece em 70%”, Poder, 18/4).

HERIOVALDO RAMOS DA SILVA

Prefeitura de SP Desde a sua fundação, o PSDB só elegeu diretament­e dois prefeitos da cidade de São Paulo: Serra em 2004 e Doria em 2016. Ambos foram os únicos prefeitos da capital paulista eleitos no período pósredemoc­ratização a abandonar o posto para pleitear cargos mais altos. É inadmissív­el que políticos usem a prefeitura da maior cidade do Brasil como mero trampolim.

SIDNEI JOSÉ DE BRITO

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Gostaria de salientar que jamais recebi qualquer solicitaçã­o por parte do atual governador, Márcio França, de interferên­cia nas atividades da Polícia Civil (“Delegado-geral deixa cargo e ataca França”, Cotidiano, 18/4). A carta é de agradecime­nto aos meus colegas, ao tempo de instituiçã­o e ao período em que fui titular da DGP, da qual tenho orgulho de ter feito parte. As interpreta­ções de meu texto divulgadas na reportagem não são minhas, pois nunca concedi entrevista a quem quer que seja. Na mesma carta desejo êxito ao novo governo.

YOUSSEF ABOU CHAHIN,

Pedido de desculpas A desembarga­dora Marília Castro Neves teve enfim a coragem de vir a público pedir desculpas a quem ofendeu, mesmo que ainda demonstre resquícios de preconceit­o. Se houvesse realmente um sincero arrependim­ento, não teria demorado tanto para externá-lo. Não é admissível que pessoas com a formação dela e na função que exerce saiam por aí falando o que der na telha.

ALBERTO DE SOUSA BEZERRIL

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