OPINIÃO Temperamento é calcanhar de Aquiles do ex-ministro, ‘novo da vez’ na eleição
A entrada de Joaquim Barbosa (PSB) na corrida eleitoral, registrada na casa dos 10% pelo Datafolha, atiçou o mercado de observação da espiral entrópica da política.
“Outsider” filiado a uma sigla tradicional, o ex-ministro do STF possui biografia que faz brilhar olhos de marqueteiros: negro e pobre que ascendeu num país desigual e chegou à sua corte suprema, enfrentando de lá poderosos.
Além das questões programáticas, a personalidade arestosa de Barbosa será crucial para construir sua eventual persona eleitoral.
No Supremo, foi acusado por pares de autoritarismo, em especial no mensalão, que relatou e foi concluído sob sua presidência na corte.
Até aí, ponto para o eventual candidato: aquele julgamento foi um prenúncio da vaga moralizante que tomou o país com a Lava Jato. Só há um Sérgio Moro porque houve antes Joaquim Barbosa.
Mas ele não é exatamente permeável ao que considera crítica. Está condenado em segunda instância por ter mandado um repórter que lhe fez perguntas legítimas “chafurdar no lixo” em 2013 —para sua sorte, danos morais não causam inelegibilidade pela Lei da Ficha Limpa.
Um ano antes, misturara esse autoritarismo com o tema do racismo, que já permeara polêmica de 2008, quando foi criticado por dizer que esperavam que ele fosse um “negro submisso” no STF.
Em 2012, um repórter negro perguntou se ele estava mais sereno, dado seu histórico de embates. “Logo você, meu brother?”, cobrou, dizendo que ele o interpelava baseado em “estereótipos” que “eles (os jornalistas brancos presentes) foram educados e comandados para levar adiante”. É visão de papel da imprensa que se ouve no PT.
Se isso parece lateral, cabe lembrar o preço que Ciro Gomes já pagou por sua intemperança. Há eleitor que pode até gostar, vide o caso Jair Bolsonaro, mas não é um ativo eleitoral inquestionável.
Barbosa é o “novo” da vez, mas seu temperamento encerra virtudes e vícios para enfrentar o debate público.