Os que mudam
ATÉ QUE Joaquim Barbosa decida se é ou não é, os pré-candidatos e a disputa pela Presidência não passam de assunto para conjecturas ociosas. Enquanto o PT não souber se é só petista ou parte de uma concepção ampla, nem a decisão de Joaquim Barbosa abriria às conjecturas sem sentido o caminho para impressões com fundamento e avaliações analíticas. O exministro e o PT são os dois possíveis fatores de uma configuração da eleição presidencial diferente das anteriores, no pós-ditadura.
Variar entre 9 e 10%, no Datafolha, comprova o potencial incomum de Joaquim Barbosa. Convém notar que esse aparecimento segue-se a anos de (boa) vida discreta, sem frequência pública nem sequer do simples nome. E esse nome é confrontado, quando registra o seu índice de apoio imediato, com pretendentes que trazem a figurinha fácil na imprensa.
Embora menos do que Joaquim Barbosa, o PSB, agora seu partido, também está indeciso quanto à candidatura. A ala paulista batalha pela ausência de candidato próprio do partido e por apoio a Geraldo Alckmin. Para quem leva “socialista” no nome, querer o conservador Alckmin na Presidência não surpreenderia, dado o precedente PSDB, mas seria outra perda de oportunidade de reconstrução.
Caso as decisões de Joaquim Barbosa e do PSB coincidam pela candidatura, o sobe e desce nas pesquisas deve alterar-se em pouco tempo, e bastante, em decorrência da imagem feita entre os conservadores exaltados pelo então juiz do mensalão. E não só: o vislumbre de um negro, o primeiro, na Presidência deve ser forte e justo atrativo para uma faixa eleitoral larga e mista.
O PT, por sua vez, precisa mesmo esperar maior clareza sobre o futuro como estaria no pessimismo. A espera, porém, precisa de limite, mesmo que para pensar só no petismo. Chegará o momento em que convirá decidir, em definitivo, entre aprisionar-se com Lula ou escolher um dos seus para substituí-lo, como já propõem alguns.
Há, no entanto, outra escolha a ser feita. Esta, entre ser apenas petismo ou pensar a partir de uma estratégia programática anticonservadorismo. O que significaria aderir, senão mesmo lançar, ao entrelaçamento dos partidos e movimentos defensores dos pontos básicos contra as desigualdades econômicas e sociais, pelo desenvolvimento e por reformas da Previdência e outras, mas com caráter democrático. Como candidato, um petista ou não.
A tradição do que quer que se autointitule o enfrentamento das “esquerdas” entre si com prioridade sobre o seu enfrentamento aos adversários de princípio. Pelo tempo e pelo mundo afora, os PCs foram os grandes artífices e propagadores da norma, e o PT não escapou do legado geral. Está agora diante do seu teste mais importante. Dividido, naturalmente.