Folha de S.Paulo

Firma associada a presidente foi acusada de operar com caixa 2

Investigaç­ão diz que Rodrimar comprou R$ 1,6 mil em notas frias

- MARIO CESAR CARVALHO

Peça central no inquérito que apura se o presidente Michel Temer recebeu propina para beneficiar empresas que atuam no porto de Santos, a Rodrimar já foi investigad­a sob suspeita de ter comprado notas fiscais frias para gerar caixa dois. O principal alvo da investigaç­ão era Antonio Celso Grecco, que presidiu a Rodrimar até ser preso no final de março junto com dois amigos de Temer.

Era Grecco quem comandava o esquema de fraudes, segundo os promotores que cuidaram da investigaç­ão sobre o suposto caixa dois.

A acusação de que a Rodrimar comprava notas de serviços e consultori­a que nunca foram prestados partiu de dois sócios minoritári­os da empresa, Dina Moretti Rodrigues e Avelino Luiz Rodrigues. Eles foram à polícia porque julgavam que o esquema provocava prejuízos para “todos os demais acionistas que não participav­am do esquema criminoso”, como escreveram os promotores na denúncia apresentad­a à Justiça. A FRAUDE O suposto esquema do qual Grecco era acusado de comandar é o mesmo usado por dezenas de empresas investigad­as pela Operação Lava Jato. Para ter dinheiro vivo ou dólares, a Rodrimar procurava empresas especializ­adas em vender nota fiscal sem prestar serviço.

O dinheiro pago para as empresas que forneciam notas frias era devolvido para a Rodrimar depois de o dono da firma de fachada ficar com uma pequena comissão.

Com o dinheiro em espécie, a Rodrimar comprava dólares de um operador ilegal de Santos, segundo promotores.

A investigaç­ão do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) apontou que a Rodrimar recorria a dois tipos de empresas para comprar notas: 1) havia as criadas por seus funcionári­as e parentes de Grecco; e 2) havia empresas especializ­adas em ajudar outras a gerar caixa dois.

Quatro dessas empresas pertenciam a João Marcos Cosso, de Ribeirão Preto, considerad­o pela Fazenda paulista um profission­al do caixa dois: “O sr. João Marcos Cosso não comerciali­za mercadoria­s, mas apenas documentos fiscais”, dizia relatório da delegacia tributária.

A apuração diz que a Rodrimar comprou 25 notas fiscais frias entre 1998 e 2001, num total de R$ 485,7 mil, o equivalent­e a R$ 1,6 milhão em valores atuais.

A investigaç­ão sobre a Rodrimar acabou anulada pelo ministro Jorge Mussi, do STJ (Superior Tribunal de Justiça) em 2009, após o advogado Marcio Thomas Bastos ingressar com um pedido alegando falhas processuai­s. A 5ª Turma do STJ confirmou a decisão de Mussi.

O ministro acatou o pedido de Thomas Bastos de que toda a apuração era ilegal porque a juíza disse no momentoemq­ueaceitoua­denúncia contra a Rodrimar que não era o caso de absolvição sumária dos acusados.

Apesar de a frase ser comum em decisões dessa natureza, o ministro considerou que houve “prejulgame­nto”.

O Tribunal de Justiça de São Paulo havia considerad­o a declaração da juíza regular: “Inexistiu antecipaçã­o do mérito ou prejulgame­nto”, disse o desembarga­dor Euvaldo Chaid no voto do TJ. Segundo ele, “o texto deve ser analisado dentro do contexto para não virar pretexto”. OUTRO LADO A Rodrimar afirma em nota que a suspeita de caixa dois “foi alvo de intensas investigaç­ões há mais de 20 anos e, após análise do Poder Judiciário, foi determinad­o o seu arquivamen­to”.

 ?? Fátima Meira - 27.fev.2018/Futura Press/Folhapress ?? Randolfe Rodrigues, que pediu o impeachmen­t de Temer
Fátima Meira - 27.fev.2018/Futura Press/Folhapress Randolfe Rodrigues, que pediu o impeachmen­t de Temer
 ?? Marco Silva - 29.mar.2018/Futura Press/Folhapress ?? Agentes da PF realizam operação na Rodrimar, em março
Marco Silva - 29.mar.2018/Futura Press/Folhapress Agentes da PF realizam operação na Rodrimar, em março

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil