Folha de S.Paulo

Cuba muda o nome, muda o país?

- CLÓVIS ROSSI COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Mathias Alencastro, quinta: Clóvis Rossi, domingo: Clóvis Rossi

HÁ DUAS maneiras de analisar a mudança de presidente em Cuba, a ocorrer nesta quinta-feira (19): uma é supor que se trata de uma mera troca de nomes que não tende a alterar as políticas seguidas pelo regime.

A outra é imaginar que se trata de um passo, embora tímido, para que, aos poucos, se façam as reformas capazes de tirar a economia de seu estado catatônico dos últimos muitos anos. A economia hoje tem apenas um terço do tamanho de 1985, segundo estudo de Pavel Vidal, economista cubano, professor na Universida­de Javeriana da Colômbia.

Ressalva: qualquer mudança, se vier, se dará na economia, não na política e nas instituiçõ­es. Cuba, com os Castro na Presidênci­a e, agora, com Miguel Díaz-Canel, continuará sendo uma ditadura de partido único. Feita a ressalva, arrisco-me a optar pela hipótese das reformas. mas também a geração que assume.

Díaz-Canel fará 58 anos nesta sexta (20), o que significa que nem era nascido quando a revolução triunfou.

Mudanças de geração não significam necessaria­mente mudança também de políticas, ainda mais que Raúl Castro continua chefe do Partido Comunista, o verdadeiro poder.

Mas Díaz-Canel não terá a legitimida­de revolucion­ária que sustentou os Castro no poder por 60 anos. condições de vida dos cubanos. E há um razoável consenso de que a economia só melhorará se forem de fato implementa­das as reformas prometidas, há dez anos, por Raúl Castro.

Há um segundo fator que torna provável um avanço das reformas: Cuba já mudou um bocado com Raúl Castro, por mais que haja críticas (justificad­as) à lentidão na implementa­ção das reformas.

Uma segunda mudança, talvez ainda mais importante para o futuro, se deu na mídia: a Rede Global de Jornalismo Investigat­ivo listou, faz pouco, 14 meios de informação independen­tes, surgidos entre 2001 e 2017.

Abrem uma rachadura, ainda que precária por enquanto, no até há pouco impenetráv­el muro de uma mídia totalmente estatal.

O economista Pavel Vidal, crítico do modelo, reconhece que “Cuba mudou considerav­elmente nesses últimos dez anos de reformas econômicas”. Completa: “A renda das famílias, os serviços turísticos, a produção de comida, restaurant­es e o

“Se Díaz-Canel puder levar adiante com sucesso as transforma­ções que Raúl iniciou, Raúl será lembrado como o Deng Xiaoping —o revolucion­ário chinês que alcançou a ‘détente’ com os Estados Unidos e começou a transição de um falido socialismo centralmen­te planificad­o para um socialismo de mercado viável”.

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