Erdogan antecipa as eleições na Turquia
Anteriormente previsto para novembro de 2019, pleito para o Executivo e o Legislativo ocorrerá em junho de 2018
Presidente credita piora nas situações no Iraque e na Síria, mas analistas veem manobra para concentrar poder
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou nesta quarta-feira (18) a convocação de eleições antecipadas para o Legislativo e o Executivo do país.
Ele creditou agravamentos das situações na Síria e no Iraque como razões para a decisão, que analistas creditam a uma tentativa de concentrar e prolongar seu poder.
Segundo o mandatário, o pleito acontecerá em 24 de junho, um ano e meio antes da data anteriormente prevista.
No poder desde 2002, inicialmente como primeiro-ministro e, depois, como presidente, Erdogan afirmou que o objetivo da decisão é antecipar a mudança do sistema político no país.
O presidente propõe que a Turquia passe do parlamentarismo —no qual o chefe de governo é o primeiro-ministro, escolhido pelo legislativo— para o presidencialismo, no qual o presidente concentra o poder.
A alteração, idealizada pelo próprio Erdogan, que visa se manter por mais cinco anos à frente do país, foi aprovada por uma pequena margem em um referendo no ano passado.
Seus efeitos, contudo, só entrariam em vigor a partir da próxima eleição, que, antes da decisão anunciada nesta quarta-feira, estava prevista para acontecer em novembro de 2019.
O presidente disse ainda que autorizou a mudança após se encontrar com Devlet Bahceli, líder do partido nacionalista MHP, que, na terça-feira (17), manifestou-se em defesa da mudança.
A sugestão pegou diversos políticos de surpresa, incluindo aliados do presidente, uma vez que o próprio Erdogan já tinha afirmado em outras ocasiões que a ideia de antecipar as eleições era fruto de um boato.
“Apesar de o presidente e de o governo estarem trabalhando em conjunto, as doenças do velho sistema nos confrontam”, disse o presidente em discurso transmitido pela TV.
“Os acontecimentos na Síria e em outros locais obrigam uma mudança urgente para o novo sistema, que possibilitará tomar as medidas necessárias para o futuro do nosso país de uma maneira mais enfática”, afirmou.
A antecipação acontece em um momento em que tropas turcas passaram a agir na região de Afrin, na vizinha Síria, para combater grupos curdos, que Ancara considera terroristas.
Erdogan e seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, de orientação islamita e conservadora) são os favoritos para vencer a disputa e devem se aliar com o nacionalista MHP.
A tendência, assim, é que ele consiga concentrar o poder. Seu governo é alvo de críticas da União Europeia e de organizações de direitos humanos, que o acusam de transformar a Turquia em uma autocracia.
A oposição pediu o fim do estado de emergência, em vigor desde uma fracassada tentativa de golpe contra o presidente em julho de 2016, para que a eleição possa ocorrer normalmente.