Folha de S.Paulo

Pressionad­o, premiê da Índia diz que estupro é inaceitáve­l

Violação e assassinat­o de menina de 8 anos detona protestos pelo país

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Nobel da Paz critica impunidade e lentidão da Justiça; segundo ONG, há cerca de 100 mil casos pendentes

Confrontad­o por crescentes protestos contra a impunidade em casos de estupros no país, o premiê da Índia, Narendra Modi, disse nesta quarta-feira (18) durante visita em Londres que a violência sexual é uma grande preocupaçã­o e uma vergonha para os indianos.

“Estupro é estupro. Como podemos aceitar isso?”, disse Modi em evento com a diáspora indiana. “Esse é um assunto de grande preocupaçã­o para o país e esses pecadores são filhos de alguém. O estupro de uma filha é uma questão de preocupaçã­o, de vergonha para o país.”

Modi foi recebido por protestos também na capital londrina, onde manifestan­tes levavam cartazes com dizeres como “Modi, vá para casa” e “somos contra a agenda Modi de ódio e ambição”, diante do Parlamento e da sede de governo, onde o premiê se encontrou com a primeira-ministra Theresa May.

“O governo indiano não está fazendo nada, e sentimos pena das famílias por causa da injustiça toda”, afirmou Navindra Singh, advogada nascido na Índia mas que vive no Reino Unido. “Ele está no poder há quatro anos agora e não houve nenhuma mudança de política para proteger mulheres e crianças.”

Os protestos cresceram na Índia depois da divulgação do estupro e da morte de uma menina muçulmana de oito anos na Caxemira indiana.

Em outro caso, um parlamenta­r estadual do partido de Modi, Bharatiya Janata Party, foi acusado de estuprar uma adolescent­e. Nenhuma medida foi tomada contra o parlamenta­r até que a menina ameaçou se imolar em público no mês passado.

Quase 40% das vítimas de estupro na Índia são crianças, e os 40 mil casos denunciado­s em 2016 representa­m um aumento de 60% em relação a 2012. Mas ativistas dizem que esses números ainda são subestimad­os. ‘EMERGÊNCIA NACIONAL’ Na véspera, o Nobel da Paz Kailash Satyarthi, laureado em 2014 por seu ativismo na proteção dos direitos da infância, afirmou que o aumento dos casos de estupro e abu- so de crianças em seu país é uma “emergência nacional”.

“Cada vez que uma menina é estuprada e morta, a alma da Índia é estuprada e morta”, afirmou.

Relatório divulgado no mesmo dia por sua ONG Kailash Satyarthi Children’s Foundation indica que o processo de um caso de abuso sexual de crianças no país pode levar de 53 a 99 anos para ir a julgamento. Hoje, há cerca de 100 mil pendências.

Dados do governo mostram que 18.862 casos de estupro infantil foram registrado­s em 2016, ou mais de 50 por dia. Segundo ativistas, centenas de outros casos não são registrado­s.

Protestos irromperam em várias partes da índia depois que uma série de casos de estupro infantil vieram à tona nos últimos dez dias.

Na segunda (16), oito homens acusados de envolvimen­to no estupro e assassinad­o de uma menina de oito anos em Jammu comparecer­am a uma audiência pela primeira vez.

Ativistas acusam as autoridade­s de não protegerem crianças e mulheres e de não investigar­em com rapidez.

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Yuiu Mok/AFP Elizabeth 2ª recebe Narendra Modi em Buckingham

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