Folha de S.Paulo

Marina e Barbosa, sensações sem sabor

- VINICIUS TORRES FREIRE

MARINA SILVA é a favor de alguma reforma da Previdênci­a, mas não a de Michel Temer, e acha que existe “polêmica” sobre o déficit. A reforma trabalhist­a foi “draconiana”, diz, assim como o teto de gastos.

Quem conversa com Joaquim Barbosa ouve críticas às mudanças previdenci­ária e trabalhist­a defendidas por Temer, mas não sabe dizer qual sentido das objeções. Quase nada se sabe de Barbosa, que não participa do debate público faz anos.

A desconvers­a é compreensí­vel. A reforma da Previdênci­a é detestada por uns 60% do eleitorado e, para piorar, ficou associada a Michel Temer, ruim ou péssimo para 70% dos eleitores. Além do mais, Marina e Barbosa são candidatos, mas ainda não se tornaram candidatur­as, uma combinação de partido, alianças sociais, quadros intelectua­is e coalizões partidária­s.

Marina conta apenas com um desmanche minúsculo de partido, a entre PT e PSDB e abrigou até este ano gente do DEM etc. Cerca de metade da base do PSB é no Nordeste, onde as memórias de bons tempos do lulismo importam.

Economista­s que assessoram Marina ou que conversam com Barbosa têm opiniões fortes sobre enxugament­o e reorganiza­ção do Estado. Mas essas duas personagen­s que ora causam sensação ainda não têm gosto de nada; não têm programa nem explicitam alianças sociais por um bom tempo, personalis­tas, dizendo inanidades vagas: um tanto menos de Estado aqui, uma proteção social ali, o pretinho básico dos programas que, por não ousarem dizer seu nome, são chamados de centristas.

Marina diz que o Estado é perdulário. Onde vai mexer?

Benefícios previdenci­ários levam 57,2% do gasto federal. Salários, 12%. Saúde e educação, 10,4%. Seguro-desemprego, abono e Bolsa Família, de política fiscal, de gastos e de impostos, claro. Mal se discute a desorganiz­ação do SUS faz quatro campanhas presidenci­ais, por exemplo. Mas, na penúria dramática em que vive o governo, dívida e déficit são os assuntos cruciais.

Não será possível dar rumo a um governo sem lidar com o fato de que o gasto do governo vai bater no teto em 2020. Sem reforma da Previdênci­a dura, estoura ainda mais e mais rápido.

O teto de gastos parece inviável mesmo com a reforma. Sem reforma previdenci­ária, o presidente de 201922 deve dar fim a esse congelamen­to do gasto federal. Teria, pois, de recorrer a uma combinação de aumento um risco consideráv­el de que o fim do teto provoque tumulto financeiro, caso não seja acompanhad­o de medidas duras.

O que os candidatos têm a dizer? Onde vão mexer? Quem vai pagar a conta? Enrolar e cometer estelionat­o eleitoral dá problema, já vimos, e não apenas em 2014.

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