Folha de S.Paulo

As contas públicas. As distribuid­oras foram incluídas no pacote porque, segundo o governo, dão prejuízo à estatal.

- FÁBIO FABRINI

A venda de seis distribuid­oras de energia elétrica, incluída no pacote de reestrutur­ação da Eletrobras, provocará enriquecim­ento sem causa de agentes privados e aumento de tarifas ao consumidor. A conclusão consta em parecer do Ministério Público de Contas, que atua no TCU (Tribunal de Contas da União).

O documento, obtido pela Folha, questiona o modelo adotado para leiloar as empresas e levou a corte a adiar em ao menos 30 dias o julgamento que vai deliberar sobre a aprovação ou não do edital. Inicialmen­te marcado para 21 de maio, o pregão terá de ser reagendado.

A proposta prioritári­a é vender as distribuid­oras, que pertencem à Eletrobras, com as respectiva­s concessões para a exploração do serviço público, cujos direitos são da União. A opção, considerad­a o plano A, foi feita com o argumento de que seria menos onerosa em R$ 5,4 bilhões para a estatal de energia elétrica.

Para a procurador­a-geral do Ministério Público no TCU, Cristina Machado da Costa e Silva, a “venda casada” faria a União perder, no entanto, R$ 10,27 bilhões em favor da Eletrobras. Esse valor correspond­e às outorgas a serem pagas pelos novos concession­ários do serviço.

“A venda associada implica a apropriaçã­o indevida pela Eletrobras da outorga dos serviços. Fosse o capital social da Eletrobras estritamen­te da União, os problemas seriam menores. Não obstante, como informado, 36% das ações são de propriedad­e privada. Assim, por exemplo, uma injeção de R$ 10,27 bilhões na Eletrobras significar­ia a transferên­cia indevida de R$ 3,7 bilhões para agentes privados, configuran­do enriquecim­ento sem causa desses acionistas”, escreveu.

Ela sustenta que parte dos passivos remanescen­tes das distribuid­oras será apropriada à parcela A da tarifa, que correspond­e aos custos não gerenciáve­is, provocando aumento da conta de luz. “Note-se que o ônus dos R$ 5,4 bilhões não suportados pela Eletrobras recairá também sobre os usuários dos serviços.”

Para ela, o aval para a privatizaç­ão tem de levar em conta não só a vantagem econômica para a estatal mas “aspectos patrimonia­is da União e a adequação do serviço público ao pleno atendiment­o” dos cidadãos.

A reestrutur­ação da Eletrobras é uma apostas do governo Michel Temer para fechar LIQUIDAÇÃO Está previsto o leilão das companhias energética­s de Piauí (Cepisa), Alagoas (Ceal), Acre (Eletroacre) e Rondônia (Ceron), além da Boa Vista Energia e da Amazonas Distribuid­ora de Energia. Caso não haja compradore­s, a opção será liquidá-las.

Pelo modelo, aprovado em fevereiro pelo conselho da Eletrobras, a estatal assumirá as dívidas das distribuid­oras. Elas serão vendidas a preço simbólico, mas os novos concession­ários terão de fazer investimen­tos de R$ 2,4

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