Folha de S.Paulo

Crise obriga homem a ajudar mais em casa, aponta IBGE

Tempo gasto por mulheres nas tarefas domésticas, porém, é quase o dobro

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Principal motivo apontado para a maior participaç­ão masculina é a queda da renda familiar, de 2% em 2017

A crise obrigou os homens a ajudarem mais nas tarefas domésticas para cortar custos dentro de casa. O tempo dispensado nessas funções, porém, ainda é metade do que gastam as mulheres.

A constataçã­o é de pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), divulgada nesta quarta (18).

De acordo com o instituto, o percentual de brasileiro­s com mais de 14 anos que informou ter feito tarefas domésticas ou cuidado de outros moradores ou parentes subiu 4%, de 82,7% para 86%.

“Pode ser um movimento conjuntura­l: as famílias estão com renda menor e não dá para pagar diarista, não dá para pagar babá, então estão fazendo mais tarefas domésticas”, disse a pesquisado­ra do IBGE Alessandra Brito.

É o caso de Caio Cesar de Oliveira, que trabalha com vendas de tecnologia para telecomuni­cações. Desde o ano passado, ele trocou os restaurant­es que frequentav­a com a mulher nos fins de semana por jantares que ele mesmo prepara em casa. Passou também a lavar o carro na casa do sogro em vez de levar ao lava-rápido.

“Eu acho que a melhora da economia que a gente tanto ouve falar ainda não está visível. Fazendo mais coisas em casa, já dá para economizar”, afirmou Oliveira.

Ele ressalva que há também um componente cultural no aumento de sua participaç­ão nas tarefas domésticas. “A gente passou a alternar. Eu também limpo a cozinha, o banheiro. Não é só ela que mora em casa. Eu também preciso ajudar”, disse.

Em 2017, a renda do trabalhado­r brasileiro caiu, em média 2%, para R$ 2.178. A crise afetou particular­mente o trabalhado­r com carteira assinada, que vem buscando o sustento por conta própria.

“Apesar de a ocupação não ter caído, essa população se inseriu em vínculos de menor rendimento”, disse a pesquisado­ra do IBGE. O fechamento de vagas foi mais intenso em setores de predominân­cia masculina, como indústria e construção civil.

Os dados mostram que a taxa de realização de afazeres domésticos ou de cuidados com moradores cresceu mais entre os homens (de 74,1% para 78,7%) do que entre as mulheres (90,6% para 92,6%). MENOS TEMPO A diferença, porém, segue grande, principalm­ente se considerad­o o número de horas dedicadas às tarefas do lar: as mulheres disseram ter dedicado 20,9 horas em afazeres domésticos ou cuidados com pessoas, contra 10,8 horas gastas por homens.

Mesmo as que trabalham gastaram muito mais tempo: 18,1 horas contra 12 horas dos homens não ocupados. Somando a média de horas trabalhada­s fora de casa e em tarefas do lar, as mulheres trabalhara­m três horas a mais do que os homens na semana da pesquisa (53,2 contra 50,2).

O cresciment­o da participaç­ão masculina em atividades do lar se deu principalm­ente na realização de afazeres domésticos, uma vez que no indicador de cuidados com outros moradores a participaç­ão masculina ficou estável.

De acordo com o IBGE, os homens têm participaç­ão mais efetiva em tarefas como pequenos reparos e manutenção, organizaçã­o do domicílio e cuidado com animais.

A preparação de alimentos e a limpeza continuam sendo atividades majoritari­amente femininas.

Na hora de cuidar de filhos ou parentes, eles participam mais de atividades ligadas ao lazer ou em fazer companhia. As mulheres ainda são majoritári­as no auxílio aos cuidados pessoais e às tarefas escolares. (NICOLA PAMPLONA E JOANA CUNHA) Taxa de realização de afazeres domésticos no domicílio ou em domicílio de parentes (em %) 81,3 Média de horas semanais dedicadas às atividades de afazeres domésticos e cuidado de moradores ou parentes (em horas) 16,7 84,4 16,5 89,8 20,9 91,7 20,9

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