Folha de S.Paulo

Chamada de desqualifi­cada por juiz do Ceará, advogada tenta a volta por cima

Defensora pedia urgência para pai ter guarda de filhas, uma das quais morreu com a mãe

- MARCEL RIZZO

FOLHA,

Ainda impactada pelo susto com a repercussã­o nacional de seu nome, a advogada Sabrina Veras, 26, quer continuar atuando na vara de família —apesar do episódio vivido em audiência no Ceará.

No último dia 21 de fevereiro, ela ligou o gravador de seu celular na 2ª Vara de Família de Fortaleza —segundo ela conta, ao perceber que o clima estava tenso.

No áudio, de nove minutos, divulgado pela seção da OAB no Ceará, o juiz Joaquim Solon Mota Junior chama Veras de desqualifi­cada, imatura e ingênua e afirma que ela se “queimou com ele e com tantos quanto ele fale a história”.

Mota Junior questionav­a a advogada sobre a possibilid­ade de ela ter dito no fórum que ele e duas funcionári­as do Judiciário foram os responsáve­is indiretos pela morte de uma criança de um ano, por demora na análise de um processo de guarda.

“Como é que a OAB dá um título a uma pessoa que não está qualificad­a para exercer a profissão?”, afirmou o juiz Mota Junior, já com a audiência encerrada.

Veras nega ter feito as acusações ao juiz.

Em nota, a ACM (Associação Cearense de Magistrado­s) afirmou que a gravação é indevida por se tratar de um caso em segredo de Justiça. O magistrado alegou não poder dar entrevista devido à lei da magistratu­ra, já que o processo está pendente de julgamento.

“Eu saí dali me sentindo humilhada e bastante constrangi­da. A atitude foi de diminuir meu trabalho, me diminuir. Ele me ameaçou ao dizer que estaria queimada.”

Veras, num primeiro momento, se assustou com a repercussã­o. Nos primeiros dias desligou o telefone ao receber diversos pedidos de entrevista, mas recebeu apoio de colegas.

Ela atua como advogada desde julho de 2017, é autônoma e tem parceria com advogados especializ­ados em direito criminal que repassam a ela casos cíveis,

Em novembro do ano passado a advogada aceitou o caso de um pai que queria a guarda das filhas, de quatro e um anos. Havia a preocupaçã­o dele sobre uma possível negligênci­a da mãe.

“Fui ao menos dez vezes ao fórum, tentar falar com o juiz sobre a urgência, e não fui recebida.” A criança mais nova morreu de engasgo com alimento em dezembro —o caso é apurado pela polícia.

Após a morte, conta, ela voltou ao fórum, pedindo urgência com relação à mais velha, mas novamente foi ignorada. Uma outra juíza, para quem o caso foi levado com as férias de Mota Junior, acabou dando a guarda da criança ao pai.

 ?? Jarbas Oliveira/Folhapress ?? A advogada Sabrina Veras, 26, ofendida por magistrado de vara de família durante audiência em fevereiro em Fortaleza
Jarbas Oliveira/Folhapress A advogada Sabrina Veras, 26, ofendida por magistrado de vara de família durante audiência em fevereiro em Fortaleza

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil