Folha de S.Paulo

Diretor falha em manter a tensão de trama conhecida

- LÚCIA MONTEIRO

FOLHA

Não espere de “7 Dias em Entebbe” tensão dramática similar à obtida por José Padilha em “Ônibus 174” (2002). Apesar da proximidad­e temática, o diretor falha desta vez no ponto em que havia acertado anteriorme­nte: manter o suspense em histórias de sequestro cujo desfecho é conhecido.

O longa narra a tomada, em 1976, de um voo de Tel Aviv a Paris por dois alemães e dois palestinos. Membros da Frente Popular para a Liberação da Palestina, eles desviam o avião para Uganda, fazendo de reféns passageiro­s e tripulação.

Com uma estrutura de montagem paralela, o filme se desdobra em duas frentes: o cativeiro, numa ala desativada do aeroporto de Entebbe, antiga capital ugandense; e as negociaçõe­s, em Israel, entre Shimon Peres, então ministro da Defesa, e Yitzhak Rabin, primeiro-ministro.

Num polo como noutro, há irregulari­dades nos diálogos, ora quase banais, ora mais densos —incomoda o fato de serem em inglês, com transições arbitrária­s para alemão, francês e árabe.

No cativeiro, os sequestrad­ores alemães Brigitte (Rosamund Pike) e Böse (Daniel Brühl, muito bem) trocam dilemas éticos e políticos.

O que fazer caso as negociaçõe­s falhem? Por que separar os israelense­s dos demais passageiro­s? Como seria vista a execução de reféns judeus por alemães?

Não faltam provocaçõe­s e posições contraditó­rias, terreno de predileção de Padilha. Um dos pontos altos está na conversa entre Böse e o engenheiro de voo (Dennis Menochet), que pergunta o que o outro faz na Alemanha.

“Sou editor de publicaçõe­s revolucion­árias”, responde o sequestrad­or. “Um engenheiro vale por 50 revolucion­ários”, retorque o francês, único capaz de consertar o encanament­o do cativeiro.

Pouca atenção é dispensada aos palestinos do grupo, indicativo do ponto de vista ocidental do filme, construído a partir do livro “Thunderbol­t Operation” (2015), do historiado­r britânico Saul David, e com a consultori­a de Amir Ofer, antigo membro da Força de Defesa Israelense.

Em Israel, as posições contrastan­tes de Peres e Rabin explicitam a política de não negociação com terrorista­s, e suas falas soam como comentário­s a episódios subsequent­es do conflito israelo-palestino. Vislumbram-se também impactos políticos futuros da morte, em Entebbe, de Jonathan Netanyahu, irmão de Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro de Israel.

Se espera e monotonia são de fato caracterís­ticas de um cativeiro, o filme falha em sustentar o suspense.

Ainda que sem função narrativa, as cenas de dança, coreografa­das pelo israelense Ohad Naharin, contribuem felizmente para incrementa­r a tensão visual. É a porção de originalid­ade do longa, de modo geral convencion­al e sem surpresas. (7 DAYS IN ENTEBBE) PRODUÇÃO Reino Unido/Estados Unidos, 12 anos DIREÇÃO José Padilha ELENCO Daniel Brühl, Rosamund Pike, Eddie Marsan QUANDO estreia nesta quinta (19) AVALIAÇÃO regular

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