Folha de S.Paulo

CINEMA/DRAMA Kore-eda muda foco para drama de tribunal

Diretor japonês conhecido por suas crônicas familiares opõe história de advogado idealista e réu confesso

- CÁSSIO STARLING CARLOS AVALIAÇÃO

FOLHA

Um crime brutal. Um assassino confesso que pode ser condenado à morte. Um advogado idealista que duvida da culpa. Em seu décimo segundo longa, o japonês Hirokazu Kore-eda parece dar uma pausa em suas crônicas sobre a vida em família para abordar o problemáti­co conceito de verdade a partir da mistura de elementos de “thriller” policial e de drama de tribunal.

Depois de compor, em duas décadas, um conjunto de filmes interpreta­dos como uma atualizaçã­o, nos temas, do cinema de Yasujiro Ozu, desta vez Kore-eda abriga-se sob a influência do revolucion­ário “Rashomon” (1950).

O longa de Akira Kurosawa reconstitu­ía um crime por meio dos relatos complement­ares e disparatad­os de testemunha­s e protagonis­tas, relativiza­ndo a verdade numa sucessão de pontos de vista.

Kore-eda propõe uma variação dessa ideia suspendend­o a estrutura múltipla que fez do filme de Kurosawa um clássico moderno. Aqui, o foco se desloca para a dupla face da culpa e da inocência, representa­das nos polos contrários, mas complement­ares, de um assassino confesso e de um advogado que tenta desvendar as circunstân­cias que possam salvar seu cliente.

A primeira cena apresenta o crime, mas de maneira estilizada, fazendo o ato parecer fluído, quase irreal. A reação de Misumi (Kôji Yakusho), o assassino, ali e em suas reapariçõe­s na cadeia é turva, mantém na sombra as reais motivações.

O desempenho racional do advogado Shigemori, por sua vez, se explicita na perseveran­ça em investigar o caso. Um oculta e o outro desvela, reafirmand­o a relação que o filme desenvolve até o diálogo final. ruim regular bom muito bom

A duplicidad­e deles, porém, não é feita só de oposições mas também de coincidênc­ias. Estas aparecem na distância afetiva que eles têm de suas filhas e no acolhiment­o que eles dão à filha do empresário assassinad­o.

Ao mencionar os abusos que esta sofria do pai, Koreeda chama mais uma vez atenção para o problema da desproteçã­o no espaço doméstico e reitera a família e seus distúrbios como o tópico central de sua obra. Estudar com paciência detetivesc­a a moral de um crime funciona, portanto, como álibi para o cineasta testar outros caminhos sem se afastar do eixo principal. (SANDOME NO SATSUJIN) DIREÇÃO Hirokazu Kore-eda ELENCO Masaharu Fukuyama, Kôji Yakusho e Shinnosuke Mitsushima PRODUÇÃO Japão, 2017, 16 anos QUANDO estreia nesta quinta (19) AVALIAÇÃO bom

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Divulgação Masaharu Fukuyama (esq.) e Kôji Yakusho (dir.) em cena de ‘O Terceiro Assassinat­o’

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