Folha de S.Paulo

Aldeia baiana atraía famosos e bichos-grilos com festas e drogas

Santuário da contracult­ura, vila hospedou a cantora Janis Joplin e o ator Jack Nicholson

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Dono de pousada conta que hospedou Richard Gere e que ‘gringos’ chegavamse­mparar, trazendo LSD na mala FOLHA,

A aldeia hippie de Arembepe, na Bahia, entrou para o mundo da fama após a passagem de Mick Jagger por lá, 50 anos atrás, e tornou-se santuário do movimento de contracult­ura. A onda nasceu nos Estados Unidos sob protestos contra a Guerra do Vietnã (1959-1975).

No rastro do rock star britânico veio para Arembepe a cantora americana Janis Joplin (1943-1970).

A partir daí, a romaria foi seguida pelos cineastas Roman Polanski e Jessel Buss, pelo ator Jack Nicholson e por uma legião de bichos-grilos.

No livro “Anos 70 Bahia”, de Sérgio Siqueira e Luiz Afonso Costa, há relatos de que a trupe de cineastas foi levada para Arembepe numa kombi do governo da Bahia, a convite do governador Antônio Carlos Magalhães (19272007). Lá, participou de uma sessão psicodélic­a de projeção de fotos que se dava através de um raio de sol.

A passagem dos astros permanece viva na memória do administra­dor da Pousada da Fazenda, Missival Dourado, 71, morador há 46 anos. Eram tempos de liberdade sexual, de disseminaç­ão do uso da maconha e do LSD, recorda.

“As festas eram regadas a maconha e, de vez em quando, rolavam pílulas de artane [droga usada no tratamento da doença de Parkinson], que deixavam a gente muito louco”, diz Dourado, que costuma terminar as frases com expressões como “bicho”.

Ele diz que só tomou co- nhecimento do LSD “com os gringos, que chegavam sem parar em Arembepe”.

“Uma vez, a polícia chegou, alguém jogou 60 cápsulas no vasilhame de água e todosbebem­os,semsaber.Não sei como não pirei. Tinha gente que via até disco voador”, afirma Dourado.

O próprio Dourado chegou a hospedar o ator Richard Gere, já em 1972, na estalagem simples à beira da praia, com bangalôs inspirados nas casas de taipa da aldeia hippie.

Mas Gere deixou o local após duas noites: não suportou as picadas de inseto. “Certa noite, acordei com um barulho dentro de casa. Quando fui ver, ele estava nu, com um travesseir­o na mão, caçando muriçocas. Que cena”.(FRANCO ADAILTON)

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Mulher caminha por praia próxima ao centro do vilarejo de Arembepe, reduto hippie a 42 quilômetro­s de Salvador
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Missival Dourado, 71, na varanda da Pousada da Fazenda, que administra em Arembepe

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