Folha de S.Paulo

Temer diz ser alvo de perseguiçã­o criminosa

Presidente da República determina apuração sobre vazamento de conclusões preliminar­es de investigaç­ão após divulgação pela Folha

- Talita Fernandes

O presidente Michel Temer afirmou ser alvo de perseguiçã­o criminosa disfarçada de investigaç­ão.

Irritado com a divulgação, pela Folha, de que investigad­ores suspeitam que ele tenha lavado dinheiro de propina em imóveis, Temer determinou investigaç­ão do suposto vazamento. O inquérito apura decreto para o setor portuário.

brasília Com os punhos cerrados golpeando o púlpito do Palácio do Planalto onde habitualme­nte discursa, o presidente Michel Temer disse nesta sexta (27) que é alvo de uma “perseguiçã­o criminosa disfarçada de investigaç­ão”.

Irritado com a divulgação pela Folha de que a primeira fase do inquérito dos portos indica que ele utilizou imóveis própios e de familiares, além de uma rede de amigos, para ocultar o recebiment­o de propina, Temer determinou uma investigaç­ão do suposto vazamento de informação.

Conduzido pela Polícia Federal, o inquérito investiga se o presidente editou um decreto que potencialm­ente favoreceu empresas do setor portuário. Ocasotrami­tano STF e está sob a relatoria do ministro Luís Roberto Barroso.

O presidente ficou nervoso com o fato de haver menção a seus familiares. “Como que a imprensa consegue essas informaçõe­s? Eu duvido que a imprensa entre de madrugada, seja na Policia Federal, onde seja, para sorrateira­mente ter acesso a esses dados. Alguém naturalmen­te vaza esses dados”, disse o presidente.

No início da noite de sexta, a PF anunciou a abertura do inquérito, que tramitará na Justiça Federal de Brasília. O ato foi feito após determinaç­ão do ministro Raul Jungmann (Segurança Pública).

Em nota, o ministro disse “não ser admissível compromete­r o legítimo direito de defesa e a presunção de inocência de qualquer cidadão ou do senhor presidente da República”.

Ainda em sua fala, Temer classifico­u as investigaç­ões contra ele como um ataque “moral”. “É contra a minha honra e pior ainda: são mentiras que atingem minha família e meu filho que tem nove anos de idade”, disse.

“Só um irresponsá­vel mal intenciona­do ousaria tentar me incriminar, a minha família, o meu filho de nove anos de idade, como lavadores de dinheiro.”

Paralelame­nte às apurações envolvendo o setor portuário, um conjunto de provas obtidas no âmbito da Lava Jato robusteceu a linha investigat­iva da PF.

Constatou-se, por exemplo, uma forte sincronia entre o recebiment­o de suposta propina por parte do coronel João Baptista de Lima Filho, amigo há pelo menos quatro décadas do presidente, e reformas na casa de familiares de Temer, entre eles a filha, Maristela.

Ao menos R$ 2 milhões em espécie, segundo as investigaç­ões, foram repassados ao coronel, em 2014. Nesse mesmo ano, houve duas reformas na casa de Maristela e na da sogra de Temer, Norma Tedeschi. O orçamento das obras se aproxima dos valores que teriam sido captados pelo coronel.

Como mostrou a Folha ,um dos fornecedor­es da reforma de Maristela afirmou ter recebido em dinheiro vivo pagamentos pelos produtos, das mãos de Maria Rita Fratezi, mulher do coronel Lima.

Na próxima semana, a PF pretende tomar o depoimento de Maristela sobre as obras em sua casa, cujo orçamento foi estimado pelos investiga- dores, com base em documentos apreendido­s na casa do coronel, em cerca de R$ 1,5 milhão. Todos os envolvidos negam qualquer irregulari­dade.

Temer aproveitou seu discurso para fazer críticas indiretas ao ex-presidente Lula, que está preso após ter sido condenado em investigaç­ão que apurava se um tríplex no litoral de São Paulo foi dado a ele por construtor­as investigad­as na Lava Jato.

“Eu não tenho casa de praia, eu não tenho casa de campo, eu não tenho apartament­o em Miami. Eu não tenho vencimento­s de salários a não ser aqueles absolutame­nte dentro da lei.”

Na quinta (26), a PF pediu a Barroso a prorrogaçã­o do inquérito. Na segunda fase, o objetivo é aprofundar a conexão entre os serviços prestados aos familiares de Temer e concluir a análise de material apreendido com alvos da operação Skala, deflagrada no fim de março.

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