Brasil perde um milhão de vagas formais por ano
Postos com carteira assinada caem desde 2014; cenários político e econômico inibem contratação, diz especialista
O Brasil perdeu quase 4 milhões de vagas com carteira assinada desde o começo da crise no mercado de trabalho, em 2014, média de 1 milhão por ano, diz o IBGE.
Em março, o número de empregados formais foi de 32,9 milhões, o menor desde 2012, início da série histórica.
No primeiro trimestre, o desemprego foi de 13,1%, alta de 1,3 ponto percentual em relação ao anterior. Durante o período, 13,7 milhões procuraram emprego no país.
“Desde que começou a crise, não se recuperou um posto com carteira de trabalho”, diz Cimar Azeredo, do IBGE.
Bruno Ottoni, do Ibre/FGV, afirma que as incertezas no cenário eleitoral e a frustração relacionada à recuperação econômica podem influenciar a contratação formal.
Azeredo diz que a carteira traz estabilidade e estimula o consumo, e sua falta atrasa a retomada.
rio de janeiro O Brasil perdeu quase 4 milhões de vagas com carteira assinada desde o começo da crise no mercado de trabalho, em 2014, uma média de 1 milhão por ano, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira (27).
Em março, o número de empregados formais foi de 32,9 milhões, o menor desde 2012, início da atual série histórica.
No primeiro trimestre, a taxa de desemprego no país foi de 13,1%, alta de 1,3 ponto percentual com relação aos 11,8% do trimestre imediatamente anterior, terminado em dezembro. Ao todo, 13,7 milhões de pessoas procuraram emprego no país no período.
“Nesse processo de desemprego tem aumento da população ocupada, tem redução da desocupação, mas o contingente de pessoas trabalhando com carteira assinada se mostra sempre baixo. Desde que começou a crise, lá em 2014, até agora, não se recuperou nem um posto sequer com carteira de trabalho”, diz Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Azeredo ressalta que a perda da carteira é um obstáculo a mais no processo de recuperação da economia. “A carteira de trabalho garante estabilidade e é o passaporte para o crédito, que ajuda a movimentar a economia”, diz.
Embora mostre desaceleração em relação a trimestres anteriores, o resultado frustrou analistas, que previam uma taxa de desemprego em 12,9% no trimestre. Na comparação anual, a taxa de desemprego caiu, mas apenas 0,5%.
Ainda assim, Azeredo diz que o mercado de trabalho dá sinais de melhora e que o aumento no nível de desemprego é natural no início do ano, com demissões de temporários contratados para o Natal.
Ele argumentou que a queda no desemprego em relação ao mesmo trimestre do ano anterior foi a primeira desde o último trimestre de 2014 e que a variação negativa vem desacelerando há cinco trimestres. A melhora, porém, é impulsionada puxada pelo emprego informal.
O pesquisador do Ibre-FGV Bruno Ottoni diz que a frustração com relação às expectativas de retomada econômica e as incertezas geradas pelo cenário eleitoral podem estar adiando a contratação formal, que é mais cara e inclui o risco de perdas com demissões.
“A tendência é voltarmos a ver a geração de vagas com carteira, mas não vai ser forte por enquanto”, diz ele, que cita ainda a alta do salário mínimo acima da inflação como outra hipótese para a atual resistência das empresas em criar novas vagas formais.
A redução do número de vagas com carteira assinada alterou o perfil da população ocupada no país desde o início da crise. Os trabalhadores com vínculos, que representavam 40% do total no segundo trimestre de 2014, hoje são 36%.
A fatia dos sem carteira e dos empregadores subiu um ponto percentual, para 12% e 5%, respectivamente. Os trabalhadores por conta própria,
que representavam 23%, hoje são 25%.
Os contingentes de trabalhadores por conta própria e de empregadores, que vinham crescendo e ajudando a compensar a queda na carteira assinada, se mantiveram estáveis em relação ao trimestre imediatamente anterior.
Para o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o cenário pode refletir o fechamento de negócios informais abertos para tentar driblar o desemprego.
Na comparação com o primeiro trimestre de 2017, porém, o número de trabalhadores por conta própria cresceu 3,8%, e o de empregadores, 5,7% —se enquadram nessa categoria também trabalhadores informais que têm empregados.
O número de trabalhadores no setor privado sem carteira subiu 5,2% na comparação anual. “O que se esperava é que, com a melhora da atividade, esses informais fossem formalizados. Mas não foi isso que aconteceu”, comentou Azeredo.
Na comparação com o trimestre anterior, houve retração no emprego em cinco dos dez grupamentos de atividade pesquisados pelo IBGE, com destaque para Construção civil (-5,8%), Indústria (-2,7%) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-2,2%).
Outros cinco, incluindo a agroindústria, que foi o motor do crescimento em 2017, permaneceram estáveis no primeiro trimestre deste ano.
O rendimento médio do trabalhador foi de R$ 2.169 no período, considerada pelo IBGE estável em relação aos R$ 2.154. No primeiro trimestre de 2017, era de R$ 2.110. Para o IBGE, a evolução é pequena e representa estabilidade.
Nenhum dos grupos de trabalhadores nem setores pesquisados registrou variação significativa no rendimento entre os primeiros trimestres de 2017 e de 2018.
Quem tem carteira assinada tem renda maior do que as categorias informais: R$ 2.074, ante R$ 1.594 daqueles que trabalham por conta própria e R$ 1.231 dos empregados sem carteira.