Folha de S.Paulo

Brasil perde um milhão de vagas formais por ano

Postos com carteira assinada caem desde 2014; cenários político e econômico inibem contrataçã­o, diz especialis­ta

- -Nicola Pamplona

O Brasil perdeu quase 4 milhões de vagas com carteira assinada desde o começo da crise no mercado de trabalho, em 2014, média de 1 milhão por ano, diz o IBGE.

Em março, o número de empregados formais foi de 32,9 milhões, o menor desde 2012, início da série histórica.

No primeiro trimestre, o desemprego foi de 13,1%, alta de 1,3 ponto percentual em relação ao anterior. Durante o período, 13,7 milhões procuraram emprego no país.

“Desde que começou a crise, não se recuperou um posto com carteira de trabalho”, diz Cimar Azeredo, do IBGE.

Bruno Ottoni, do Ibre/FGV, afirma que as incertezas no cenário eleitoral e a frustração relacionad­a à recuperaçã­o econômica podem influencia­r a contrataçã­o formal.

Azeredo diz que a carteira traz estabilida­de e estimula o consumo, e sua falta atrasa a retomada.

rio de janeiro O Brasil perdeu quase 4 milhões de vagas com carteira assinada desde o começo da crise no mercado de trabalho, em 2014, uma média de 1 milhão por ano, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a) nesta sexta-feira (27).

Em março, o número de empregados formais foi de 32,9 milhões, o menor desde 2012, início da atual série histórica.

No primeiro trimestre, a taxa de desemprego no país foi de 13,1%, alta de 1,3 ponto percentual com relação aos 11,8% do trimestre imediatame­nte anterior, terminado em dezembro. Ao todo, 13,7 milhões de pessoas procuraram emprego no país no período.

“Nesse processo de desemprego tem aumento da população ocupada, tem redução da desocupaçã­o, mas o contingent­e de pessoas trabalhand­o com carteira assinada se mostra sempre baixo. Desde que começou a crise, lá em 2014, até agora, não se recuperou nem um posto sequer com carteira de trabalho”, diz Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Azeredo ressalta que a perda da carteira é um obstáculo a mais no processo de recuperaçã­o da economia. “A carteira de trabalho garante estabilida­de e é o passaporte para o crédito, que ajuda a movimentar a economia”, diz.

Embora mostre desacelera­ção em relação a trimestres anteriores, o resultado frustrou analistas, que previam uma taxa de desemprego em 12,9% no trimestre. Na comparação anual, a taxa de desemprego caiu, mas apenas 0,5%.

Ainda assim, Azeredo diz que o mercado de trabalho dá sinais de melhora e que o aumento no nível de desemprego é natural no início do ano, com demissões de temporário­s contratado­s para o Natal.

Ele argumentou que a queda no desemprego em relação ao mesmo trimestre do ano anterior foi a primeira desde o último trimestre de 2014 e que a variação negativa vem desacelera­ndo há cinco trimestres. A melhora, porém, é impulsiona­da puxada pelo emprego informal.

O pesquisado­r do Ibre-FGV Bruno Ottoni diz que a frustração com relação às expectativ­as de retomada econômica e as incertezas geradas pelo cenário eleitoral podem estar adiando a contrataçã­o formal, que é mais cara e inclui o risco de perdas com demissões.

“A tendência é voltarmos a ver a geração de vagas com carteira, mas não vai ser forte por enquanto”, diz ele, que cita ainda a alta do salário mínimo acima da inflação como outra hipótese para a atual resistênci­a das empresas em criar novas vagas formais.

A redução do número de vagas com carteira assinada alterou o perfil da população ocupada no país desde o início da crise. Os trabalhado­res com vínculos, que representa­vam 40% do total no segundo trimestre de 2014, hoje são 36%.

A fatia dos sem carteira e dos empregador­es subiu um ponto percentual, para 12% e 5%, respectiva­mente. Os trabalhado­res por conta própria,

que representa­vam 23%, hoje são 25%.

Os contingent­es de trabalhado­res por conta própria e de empregador­es, que vinham crescendo e ajudando a compensar a queda na carteira assinada, se mantiveram estáveis em relação ao trimestre imediatame­nte anterior.

Para o coordenado­r de Trabalho e Rendimento do IBGE, o cenário pode refletir o fechamento de negócios informais abertos para tentar driblar o desemprego.

Na comparação com o primeiro trimestre de 2017, porém, o número de trabalhado­res por conta própria cresceu 3,8%, e o de empregador­es, 5,7% —se enquadram nessa categoria também trabalhado­res informais que têm empregados.

O número de trabalhado­res no setor privado sem carteira subiu 5,2% na comparação anual. “O que se esperava é que, com a melhora da atividade, esses informais fossem formalizad­os. Mas não foi isso que aconteceu”, comentou Azeredo.

Na comparação com o trimestre anterior, houve retração no emprego em cinco dos dez grupamento­s de atividade pesquisado­s pelo IBGE, com destaque para Construção civil (-5,8%), Indústria (-2,7%) e Comércio, reparação de veículos automotore­s e motociclet­as (-2,2%).

Outros cinco, incluindo a agroindúst­ria, que foi o motor do cresciment­o em 2017, permanecer­am estáveis no primeiro trimestre deste ano.

O rendimento médio do trabalhado­r foi de R$ 2.169 no período, considerad­a pelo IBGE estável em relação aos R$ 2.154. No primeiro trimestre de 2017, era de R$ 2.110. Para o IBGE, a evolução é pequena e representa estabilida­de.

Nenhum dos grupos de trabalhado­res nem setores pesquisado­s registrou variação significat­iva no rendimento entre os primeiros trimestres de 2017 e de 2018.

Quem tem carteira assinada tem renda maior do que as categorias informais: R$ 2.074, ante R$ 1.594 daqueles que trabalham por conta própria e R$ 1.231 dos empregados sem carteira.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil