Folha de S.Paulo

Governo federal vai extinguir parte das UPPs no Rio

Segundo ministro, haverá desativaçã­o de quase metade das unidades de pacificaçã­o

- -Italo Nogueira

O ministro da Segurança, Raul Jungmann, afirmou que cerca de metade das 38 UPPs (Unidades de Polícia Pacificado­ra) do Rio será extinta. O objetivo é reforçar o policiamen­to das unidades que continuare­m ativas e de outras regiões do estado.

rio de janeiro -O ministro da Segurança, Raul Jungmann, afirmou nesta sexta-feira (27) que quase metade das 38 UPPs (Unidades de Polícia Pacificado­ra) será extinta, a fim de reforçar o policiamen­to de outras regiões do estado e das unidades que permanecer­em.

Ele declarou que parte das UPPs eram apenas um “rótulo” do programa iniciado há quase uma década e que já não cumpria suas funções.

“As UPPs em certa medida malograram o que deveriam ter alcançado. Primeiro porque houve uma expansão maior do que o estado poderia manter com os recursos que tinha. Isso degradou uma grande parte das UPPs”, disse.

“Em segundo lugar, as UPPs eram uma ponta de um projeto, em que o estado deveria entrar com saúde e educação, o que também não entrou”, completou Jungmann, após reunião na Firjan para a instalação do Conselho de Segurança Pública da entidade.

As UPPs foram vitrine da política de segurança da gestão Sérgio Cabral (MDB), atualmente preso por corrupção.

O sucesso das primeiras experiênci­as, combinado com as sucessivas quedas de homicídio no estado à época, fez com que o projeto se expandisse sem correção de rumos, na avaliação de especialis­tas.

O Rio está sob intervençã­o federal na segurança desde 16 de fevereiro —medida decretada pelo presidente Michel Temer (MDB), que nomeou o general do Exército Walter Braga Netto como intervento­r.

Ele se tornou responsáve­l tanto pelo comando das polícias como do setor penitenciá­rio do Rio de Janeiro.

A UPP foi concebida com a ideia de criar uma estrutura independen­te dos batalhões, justamente para desenvolve­r uma nova forma de atuar da polícia, mais focada no policiamen­to comunitári­o.

A primeira foi inaugurada na favela Dona Marta, em Botafogo (zona sul) em 2008. Outras quatro surgiram em 2009, oito em 2010, cinco em 2011, dez em 2012, oito em 2013 e duas em 2014 —quando o projeto já vinha sofrendo desgaste.

“Uma parte das UPPs se transformo­u em algo que não tinha as funções para as quais elas foram concebidas. Essas unidades estavam de fato cumprindo com aquilo que haviam se comprometi­do? Ou já perderam grande parte de sua funcionali­dade? Ou era apenas um rótulo que tínhamos sem a capacidade de exercer a sua função? Vamos ser sinceros”, disse o ministro, que não deu o número exato das que serão extintas.

Estudo da PM aponta que, enquanto em 2011 foram registrado­s apenas 13 confrontos em lugares com UPP, em 2016 esse número subiu para 1.555.

Em nota, a Secretaria de Segurança criticou “a divulgação da notícia sobre suposta extinção das UPPs”. Disse que a publicidad­e da informação “leva angústia aos moradores”.

Pela manhã, a PM havia convocado uma entrevista coletiva para explicar o “realinhame­nto” das UPPs. O encontro acabou cancelado minutos antes da hora marcada.

Duas unidades já haviam sido encerradas —Batan e Vila Kennedy. A secretaria declarou que a próxima a ser extinta é a da favela da Mangueirin­ha, em Duque de Caxias, única fora da capital.

“A Seseg reafirma que os programas sociais serão mantidos e que o realinhame­nto visa fortalecer a segurança das comunidade­s, além da melhoria das condições de trabalho dos policiais”, diz a nota.

Em seu auge, as UPPs viraram trunfo eleitoral. Em sua campanha à reeleição, Cabral chegou a declarar que terminaria seu segundo mandato, em 2014, sem nenhuma favela sob controle armado.

“Não posso dizer se vai ser no mês tal do ano que vem. Posso garantir que termino o meu governo com todas as comunidade­s pacificada­s. Quando eu digo todas... Todas que estiverem controlada­s”, declarou ele, durante sabatina da Folha em 2010.

Com a promessa descumprid­a, o governador Luiz Fernando Pezão, sucessor de Cabral, disse na campanha de 2014 que faria mais 40 UPPs em seu mandato, mais que dobrando o número da época (as mesmas 38 UPPs de hoje). Nenhuma foi inaugurada.

O esvaziamen­to das unidades já havia sido iniciado em agosto de 2017, quando, em meio ao agravament­o da violência e de confrontos armados em favelas no Rio, o governo Pezão anunciou a retirada de 3.000 policiais das UPPs (em torno de 30% do efetivo), com a intenção de redistribu­í-los pelo estado.

 ?? Marcelo Fonseca/Folhapress ?? Militares do Exército fazem operação na Tijuca, zona norte do Rio, na noite desta sexta (27)
Marcelo Fonseca/Folhapress Militares do Exército fazem operação na Tijuca, zona norte do Rio, na noite desta sexta (27)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil