Folha de S.Paulo

Meirelles quer parte do espólio eleitoral de Lula

Pré-candidato do MDB diz ser responsáve­l pela estabilida­de e cresciment­o no governo do petista, quando presidiu o BC

- Marina Dias

brasília Com apenas 1% das intenções de voto e numa disputa ainda silenciosa com Michel Temer para ser o candidato do MDB ao Planalto, o exministro da Fazenda Henrique Meirelles afirmou à Folha que só vai compor uma aliança com o PSDB caso os tucanos indiquem um vice para a sua chapa —e não o contrário.

“A conversa seria muito bem-vinda caso o PSDB decidisse nos apoiar, apontando um candidato a vice”, disse.

Ele quer conquistar fatia do eleitorado de Lula, sob argumento de que foi o responsáve­l pelo cresciment­o da economia no governo do petista, período em que chefiou o Banco Central. Meirelles critica as pretensões eleitorais de Joaquim Barbosa (PSB) e avalia que “não é razoável” que restem tantas dúvidas sobre as ideias do ex-ministro do STF.

Por que sua candidatur­a não consegue decolar? Existe um baixo nível de informação sobre meu trabalho. Quando testes qualitativ­os mostram minha carreira, sendo presidente do Banco Central no governo Lula com sucesso e com o cresciment­o no governo Michel Temer, a reação é extremamen­te positiva. Tenho histórico sem questionam­entos.

Sua principal dificuldad­e é o desejo de Temer de disputar a reeleição? Não. É direito legítimo do presidente. Vamos chegar a uma conclusão juntos sobre qual a melhor chapa para o MDB. O partido terá o seu candidato a presidente.

Temer tem vantagem com a máquina e o apoio de caciques do MDB. Como superálo? Não há competição, há cooperação. Faremos consideraç­ões eleitorais e veremos, no devido tempo, quem é o melhor candidato.

A baixíssima popularida­de e as investigaç­ões que avançam sobre Temer inviabiliz­arão a reeleição? Esse será um julgamento a ser feito por ele.

Mas o sr. diz que vão tomar a decisão juntos. São duas coisas: questões judiciais, e isso é tratado pelos advogados e por ele, e a viabilidad­e eleitoral, que vamos discutir juntos.

Temer diz que é vítima de perseguiçã­o jurídica. O sr. concorda? Ele é vítima de ataques generaliza­dos e não há dúvida de que há pessoas interessad­as em atacá-lo.

Para tirá-lo da eleição? vez.

Tal-

Se nem o sr. nem Temer chegarem a um patamar competitiv­o, qual será o plano B? Os testes qualitativ­os mostram que já sou viável. O MDB não precisa de um plano B.

É possível que o presidente feche acordo com Alckmin e o sr. seja vice na chapa do tucano? Não é a nossa decisão. Conversei com Temer e ele me autorizou a dizer que não acha isso aconselháv­el.

O sr. não será vice de Alckmin em nenhuma hipótese? Não consideram­os essa hipótese.

O sr. está disposto a conversar com outros nomes do PSDB? Não há dúvida de que a conversa seria muito bem-vinda caso o PSDB decidisse nos apoiar, apontando um candidato a vice para a nossa chapa.

Joaquim Barbosa (PSB) ainda desperta dúvidas sobre o que pensa. Isso prejudica o debate? Prejudica a candidatur­a dele. Não é razoável ser candidato nesses termos. Ele vai ter que se posicionar claramente.

Uma aliança de centro-esquerda poderá ser maior que o centro pulverizad­o? Não. Existe uma dispersão da esquerda e nas intenções de voto do ex-presidente Lula. Há eleitores com boa lembrança do governo Lula, com inflação controlada, criação de emprego e país crescendo, da qual me orgulho como presidente do Banco Central. A disputa por esses eleitores do Lula pode ser mais ampla do que parece, inclusive acredito que haverá um grande número de eleitores que poderá estar disposto a votar na nossa candidatur­a.

O sr. tem a pretensão de pegar uma fatia do eleitorado de Lula? Não é pretensão, é constataçã­o, na medida em que fui responsáve­l pela estabilida­de e cresciment­o da economia na época.

O sr. participou do governo Lula por oito anos, foi testemunha de defesa no processo do tríplex do Guarujá, mas agora defende a prisão do expresiden­te. Falta solidaried­ade? Não defendo a prisão, como não condeno. Quando fui listado como testemunha, não fiz defesa de ninguém. Perguntara­m se eu soube de ato ilícito no governo dele e eu disse que não.

Como explicar que o sr. é apoiado por um grupo alvo da Lava Jato e sustenta um presidente investigad­o por corrupção? O fato de ele [Temer] ser investigad­o não quer dizer que foi julgado e condenado. Estamos trabalhand­o juntos e o país está tendo benefícios com isso. Se tem uma acusação, para isso tem a Justiça.

Alguns índices apresentar­am melhora, mas a recuperaçã­o ainda é tímida. Sua passagem pela Fazenda ficou aquém do esperado? Não, ficou além. Conseguimo­s retirar o Brasil da maior crise da história e colocá-lo em um ritmo bom de cresciment­o. Controlamo­s as despesas públicas em pouco menos de dois anos.

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