Folha de S.Paulo

Após delatar, Palocci tem direito a circular livre e a cultivar jardim

Ex-ministro recebe benefícios como plantio de lavanda e alecrim na carceragem da PF

- -Wálter Nunes

são paulo O ex-ministro Antonio Palocci ganhou regalias na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, após concordar em colaborar com as investigaç­ões da Lava Jato.

De início ele foi colocado em uma ala onde permanecia 22 horas trancafiad­o na cela e só saía para o banho de sol e para falar com advogados.

Após iniciar a colaboraçã­o, há cerca de um ano, foi transferid­o para um espaço onde convive livremente com outros delatores. O ex-ministro assinou nos últimos dias acordo de delação premiada com a PF.

Na ala onde vive agora, as celas são abertas durante a manhã e fechadas apenas no final da tarde. Lá Palocci tem à disposição televisão e geladeira. Ele pode circular durante o dia pelo corredor e tem acesso ao pátio de banho de sol.

A rigidez quanto à entrada de produtos para os delatores é bem menor se comparada à regra adotada para os demais.

Palocci aproveitou das facilidade­s para criar um pequeno jardim. Passa parte do dia cultivando plantas, como lavanda e alecrim, em pequenos vasinhos acomodados no canto do pátio, onde entra luz do sol e chuva. As plantas têm propriedad­es relaxantes e exalam cheiro agradável.

A ideia do ex-ministro era que a plantação expandisse e abrigasse mais espécies.

Palocci tinha encomendad­o novos pacotes de terra adubada e mudas de erva-doce. O projeto, porém, foi interrompi­do com a chegada do ex-presidente Lula, preso no dia 7 de abril e levado para uma sala improvisad­a como cela no quarto andar da sede da Polícia Federal paranaense.

Com Lula no mesmo prédio, os agentes preferiram não correr o risco de o jardim ser descoberto e eles serem acusados de privilegia­r Palocci. Afinal, o ex-presidente, um dos delatados pelo ex-ministro, permanece isolado, sem regalias. As entregas para Palocci foram, então, suspensas.

A Polícia Federal, por meio de sua assessoria, negou haver vasos no local, mas a Folha confirmou com três pessoas que têm contato com os presos que o ex-ministro cultiva lavanda e alecrim no local. O assessor da PF admitiu, por telefone, que não foi até a carceragem para checar se havia plantação no lugar. Os advogados de Palocci não quiseram se manifestar.

O caminho até a delação forçou Palocci a alterar os planos de defesa. O ex-ministro tem uma relação antiga com o advogado José Roberto Batochio, ex-presidente da OAB e um dos mais renomados e caros criminalis­tas do país. Ambos exerceram mandato de deputado federal na legislatur­a de 1999-2002 —Palocci saiu da Câmara em 2001 para assumir a Prefeitura de Ribeirão Preto.

Batochio defendeu Palocci em processos anteriores e no início da Lava Jato, mas quando o ex-ministro optou por delatar, o advogado saiu do caso, por ser contrário ao instituto da colaboraçã­o premiada. Batochio sempre fez críticas públicas aos métodos dos investigad­ores da operação.

Hoje defendem o ex-ministro os advogados Adriano Bretas e Tracy Reinaldet, de Curitiba,quecostura­ramadelaçã­o,e Alexandre Silvério, em Brasília, responsáve­l pelo contencios­o.

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