Com impeachment de Pimentel, MDB encarece apoio ao PT
Aliados históricos de petistas em MG, emedebistas podem estar mais dando um recado do que planejando ofensiva real
belo horizonte Em nota sobre a aceitação de um pedido de impeachment contra o governador Fernando Pimentel (PT) pela Assembleia Legislativa, o PT de Minas Gerais afirmou ver uma repetição da história vivida pela ex-presidente Dilma Rousseff, que teve o mandato cassado pelo Senado em 2016.
O paralelo é evidente sobretudo porque nas duas situações há como vice um outrora aliado do MDB. Antônio Andrade, vice-governador, e Pimentel estão rompidos a ponto de o governador não ter avisado o emedebista quando resolveu desativar a sede do governo na Cidade Administrativa —portanto desalojando o vice de seu gabinete.
Ainda assim, e contrariando o cenário nacional, o MDB se manteve na base de Pimentel graças à ala formada principalmente por deputados estaduais que dá sustentação ao governo na Assembleia. Especialmente neste ano, a aliança é fundamental para garantir mais cadeiras na Câmara dos Deputados.
O casamento proporcionou cenas inusitadas como prefeitos do MDB e da base do presidente Michel Temer recepcionando o ex-presidente Lula em sua caravana pelo interior mineiro no ano passado.
O próprio presidente da Assembleia, Adalclever Lopes (MDB), principal costura entre o governo Pimentel e emedebistas, chegou a dividir o palanque com Lula, dizendo que Minas o apoiava.
Não pode ter sido sem seu aval que, nesta quinta (26), o primeiro vice-presidente da Assembleia, Lafayette Andrada (PRB), autorizou a tramitação do pedido de impeachment contra Pimentel.
A histórica aliança de 12 anos entre os partidos começou a azedar não é de hoje. Há um movimento no MDB pelo lançamento de uma candidatura própria em vez do apoio à reeleição de Pimentel. Nesse cenário, o PT poderia inclusive abdicar da cabeça de chapa para apoiá-los.
O último recado do PT, no entanto, foi um balde de água fria —ou a gota d’água. Numa articulação nacional do partido, Dilma transferiu seu título de eleitora para Minas, o que a coloca automaticamente como postulante ao Senado na chapa petista. Até então, o principal nome para o cargo era justamente o de Adalclever.
Com isso, os emedebistas perderam espaço na composição e criou-se o desgaste de um palanque dividido entre Dilma e seus algozes —cinco deputados federais do MDB de Minas votaram pelo seu impeachment.
Como pano de fundo da insatisfação emedebista, há a crise financeira do estado, que inclusive foi o que motivou o pedido de impeachment e tem levado a atrasos nos repasses à Assembleia, no pagamento de emendas parlamentares e nas transferências às prefeituras.
No entendimento de deputados estaduais do MDB, o movimento pelo impeachment foi mais um sinal claro de descontentamento do que um desembarque de fato. Até porque ainda resta ser formada a comissão especial que analisará o pedido e a tramitação pode não prosperar.
Com a estratégia, o MDB encarece seu apoio e pressiona por postos na chapa. O futuro da união depende, porém, de que o governador e o presidente da Assembleia aparem suas arestas.