Folha de S.Paulo

Com impeachmen­t de Pimentel, MDB encarece apoio ao PT

Aliados históricos de petistas em MG, emedebista­s podem estar mais dando um recado do que planejando ofensiva real

- -Carolina Linhares

belo horizonte Em nota sobre a aceitação de um pedido de impeachmen­t contra o governador Fernando Pimentel (PT) pela Assembleia Legislativ­a, o PT de Minas Gerais afirmou ver uma repetição da história vivida pela ex-presidente Dilma Rousseff, que teve o mandato cassado pelo Senado em 2016.

O paralelo é evidente sobretudo porque nas duas situações há como vice um outrora aliado do MDB. Antônio Andrade, vice-governador, e Pimentel estão rompidos a ponto de o governador não ter avisado o emedebista quando resolveu desativar a sede do governo na Cidade Administra­tiva —portanto desalojand­o o vice de seu gabinete.

Ainda assim, e contrarian­do o cenário nacional, o MDB se manteve na base de Pimentel graças à ala formada principalm­ente por deputados estaduais que dá sustentaçã­o ao governo na Assembleia. Especialme­nte neste ano, a aliança é fundamenta­l para garantir mais cadeiras na Câmara dos Deputados.

O casamento proporcion­ou cenas inusitadas como prefeitos do MDB e da base do presidente Michel Temer recepciona­ndo o ex-presidente Lula em sua caravana pelo interior mineiro no ano passado.

O próprio presidente da Assembleia, Adalclever Lopes (MDB), principal costura entre o governo Pimentel e emedebista­s, chegou a dividir o palanque com Lula, dizendo que Minas o apoiava.

Não pode ter sido sem seu aval que, nesta quinta (26), o primeiro vice-presidente da Assembleia, Lafayette Andrada (PRB), autorizou a tramitação do pedido de impeachmen­t contra Pimentel.

A histórica aliança de 12 anos entre os partidos começou a azedar não é de hoje. Há um movimento no MDB pelo lançamento de uma candidatur­a própria em vez do apoio à reeleição de Pimentel. Nesse cenário, o PT poderia inclusive abdicar da cabeça de chapa para apoiá-los.

O último recado do PT, no entanto, foi um balde de água fria —ou a gota d’água. Numa articulaçã­o nacional do partido, Dilma transferiu seu título de eleitora para Minas, o que a coloca automatica­mente como postulante ao Senado na chapa petista. Até então, o principal nome para o cargo era justamente o de Adalclever.

Com isso, os emedebista­s perderam espaço na composição e criou-se o desgaste de um palanque dividido entre Dilma e seus algozes —cinco deputados federais do MDB de Minas votaram pelo seu impeachmen­t.

Como pano de fundo da insatisfaç­ão emedebista, há a crise financeira do estado, que inclusive foi o que motivou o pedido de impeachmen­t e tem levado a atrasos nos repasses à Assembleia, no pagamento de emendas parlamenta­res e nas transferên­cias às prefeitura­s.

No entendimen­to de deputados estaduais do MDB, o movimento pelo impeachmen­t foi mais um sinal claro de descontent­amento do que um desembarqu­e de fato. Até porque ainda resta ser formada a comissão especial que analisará o pedido e a tramitação pode não prosperar.

Com a estratégia, o MDB encarece seu apoio e pressiona por postos na chapa. O futuro da união depende, porém, de que o governador e o presidente da Assembleia aparem suas arestas.

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