Folha de S.Paulo

Dólar fecha semana em R$ 3,46 e analistas veem cenário instável

Cautela com aumento de juros nos EUA e eleição no Brasil pressionam cotação

- -Danielle Brant

são paulo A velocidade com que o dólar atingiu R$ 3,50 nesta semana pegou de surpresa muita gente no mercado, e a trégua que a moeda americana deu nesta sextafeira (27), quando recuou para R$ 3,46, não foi suficiente para afastar a possibilid­ade de novas valorizaçõ­es.

A avaliação é de analistas ouvidos pela Folha, que incluem entre os fatores de risco o receio de uma aceleração do ritmo de alta dos juros americanos, o que provocaria um fluxo de saída de dólares do Brasil para os Estados Unidos, além das incertezas eleitorais.

Nesta sexta, o dólar recuou 0,43%, para R$ 3,463. Na semana, porém, teve alta de 1,5%.

Para as próximas semanas, a perspectiv­a é que a moeda americana sofra mais oscilações, com o fator eleições presidenci­ais ganhando cada vez mais influência sobre o comportame­nto do dólar, diz Bruno Lavieri, economista da 4E Consultori­a.

Isso acontece porque os investidor­es têm pouca clareza sobre as diretrizes econômicas dos pré-candidatos que aparecem na liderança das pesquisas: Jair Bolsonaro (PSL),Marina Silva (Rede) e Joaquim Barbosa, que ainda não decidiu se vai disputar as eleições. Com isso, a tendência é de mais altas.

“Com a proximidad­e das eleições e à medida que o cenário fique mais incerto, o câmbio pode estressar mais um pouco e ter um pico de R$ 3,75 em agosto ou setembro. Só deve voltar a um patamar de R$ 3,40 após as eleições, caso se confirme a vitória de um candidato com perfil reformista”, diz.

Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, há motivos para o investidor “pegar a malinha dele e ir embora”.

“Pode ser eleito um cara como o Bolsonaro e estatizar tudo, em vez de privatizar. Essa é a preocupaçã­o do investidor também. Enquanto persistire­m essas possibilid­ades, o dólar pode subir”, diz.

Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimen­tos, tem mais dificuldad­e de prever as próximas movimentaç­ões da moeda.

“A gente tinha na cabeça que o câmbio poderia ser volátil perto da eleição, mas não imaginava que chegaria tão alto e tão rápido. Achamos que deve cair mais no fim do ano, por uma tendência global e por fatores domésticos”, diz.

No Santander, as projeções foram mantidas em R$ 3,50. “Para nós, a alta não chega a ser uma grande surpresa, porque, embora haja motivos locais para pressionar o câmbio, grande parte do movimento tem a ver com o cenário internacio­nal”, diz Adriana Dupita, economista sênior do banco. “Mas temos que admitir que foi um pouco mais rápido do que imaginávam­os.”

A movimentaç­ão de alta da semana ocorreu principalm­ente pela percepção de que o banco central americano pode fazer mais elevações do que as projetadas pelo mercado para conter uma eventual pressão inflacioná­ria gerada pelas altas de preços de matérias-primas como o petróleo.

Essa avaliação aumentou os rendimento­s dos títulos de dívida americana com vencimento em dez anos. Nesta semana, as taxas superaram 3% anuais, o maior nível em mais de quatro anos.

Alguns especialis­tas já cogitam revisar suas projeções por causa desse cenário. Julia Gottlieb, especialis­ta do Itaú Unibanco responsáve­l pela cobertura de câmbio, estima o dólar em R$ 3,25 no fim do ano.

Admite, porém, que pode revisitar o valor caso identifiqu­e distorção na diferença entre o juro pago pelos papéis de dívida americana e a taxa dos títulos brasileiro­s.

Com a proximidad­e das eleições e à medida que cenário fique incerto, o câmbio pode ter pico de R$ 3,75 Bruno Lavieri economista da 4E Consultori­a

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Fonte: CMA

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