Dólar fecha semana em R$ 3,46 e analistas veem cenário instável
Cautela com aumento de juros nos EUA e eleição no Brasil pressionam cotação
são paulo A velocidade com que o dólar atingiu R$ 3,50 nesta semana pegou de surpresa muita gente no mercado, e a trégua que a moeda americana deu nesta sextafeira (27), quando recuou para R$ 3,46, não foi suficiente para afastar a possibilidade de novas valorizações.
A avaliação é de analistas ouvidos pela Folha, que incluem entre os fatores de risco o receio de uma aceleração do ritmo de alta dos juros americanos, o que provocaria um fluxo de saída de dólares do Brasil para os Estados Unidos, além das incertezas eleitorais.
Nesta sexta, o dólar recuou 0,43%, para R$ 3,463. Na semana, porém, teve alta de 1,5%.
Para as próximas semanas, a perspectiva é que a moeda americana sofra mais oscilações, com o fator eleições presidenciais ganhando cada vez mais influência sobre o comportamento do dólar, diz Bruno Lavieri, economista da 4E Consultoria.
Isso acontece porque os investidores têm pouca clareza sobre as diretrizes econômicas dos pré-candidatos que aparecem na liderança das pesquisas: Jair Bolsonaro (PSL),Marina Silva (Rede) e Joaquim Barbosa, que ainda não decidiu se vai disputar as eleições. Com isso, a tendência é de mais altas.
“Com a proximidade das eleições e à medida que o cenário fique mais incerto, o câmbio pode estressar mais um pouco e ter um pico de R$ 3,75 em agosto ou setembro. Só deve voltar a um patamar de R$ 3,40 após as eleições, caso se confirme a vitória de um candidato com perfil reformista”, diz.
Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, há motivos para o investidor “pegar a malinha dele e ir embora”.
“Pode ser eleito um cara como o Bolsonaro e estatizar tudo, em vez de privatizar. Essa é a preocupação do investidor também. Enquanto persistirem essas possibilidades, o dólar pode subir”, diz.
Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, tem mais dificuldade de prever as próximas movimentações da moeda.
“A gente tinha na cabeça que o câmbio poderia ser volátil perto da eleição, mas não imaginava que chegaria tão alto e tão rápido. Achamos que deve cair mais no fim do ano, por uma tendência global e por fatores domésticos”, diz.
No Santander, as projeções foram mantidas em R$ 3,50. “Para nós, a alta não chega a ser uma grande surpresa, porque, embora haja motivos locais para pressionar o câmbio, grande parte do movimento tem a ver com o cenário internacional”, diz Adriana Dupita, economista sênior do banco. “Mas temos que admitir que foi um pouco mais rápido do que imaginávamos.”
A movimentação de alta da semana ocorreu principalmente pela percepção de que o banco central americano pode fazer mais elevações do que as projetadas pelo mercado para conter uma eventual pressão inflacionária gerada pelas altas de preços de matérias-primas como o petróleo.
Essa avaliação aumentou os rendimentos dos títulos de dívida americana com vencimento em dez anos. Nesta semana, as taxas superaram 3% anuais, o maior nível em mais de quatro anos.
Alguns especialistas já cogitam revisar suas projeções por causa desse cenário. Julia Gottlieb, especialista do Itaú Unibanco responsável pela cobertura de câmbio, estima o dólar em R$ 3,25 no fim do ano.
Admite, porém, que pode revisitar o valor caso identifique distorção na diferença entre o juro pago pelos papéis de dívida americana e a taxa dos títulos brasileiros.
Com a proximidade das eleições e à medida que cenário fique incerto, o câmbio pode ter pico de R$ 3,75 Bruno Lavieri economista da 4E Consultoria