Folha de S.Paulo

Marco que libera agrotóxico­s avança na Câmara

- -Ranier Bragon

brasília A bancada ruralista na Câmara dos Deputados apresentou, na terça-feira (24), relatório que derruba restrições à aprovação e uso dos agrotóxico­s no Brasil, incluindo os mais perigosos, que tenham caracterís­ticas teratogêni­cas —causadoras de anomalias no útero e malformaçã­o no feto—, cancerígen­as ou mutagênica­s.

O texto, assinado pelo deputado Luiz Nishimori (PRPR), altera toda a legislação relativa a agrotóxico­s —que passa a ser chamado de “produto fitossanit­ário”—, criando um rito bem mais sumário para a aprovação de novos pesticidas.

Pelas atuais regras, órgãos dos ministério­s da Agricultur­a, da Saúde e do Meio Ambiente são responsáve­is por análises dos novos agrotóxico­s, trabalho que normalment­e leva mais de cinco anos.

O projeto reduz esse prazo para 12 meses, período após o qual o novo produto ganhará registro provisório caso não haja posição conclusiva das autoridade­s.

A votação do texto de Nishimori está marcada para o dia 8 de maio em comissão especial da Câmara. A bancada ruralista tem maioria do órgão. Se aprovado, segue direto para análise do plenário.

Um dos pontos mais polêmicos é o que revoga a proibição do registro de agrotóxico­s altamente perigosos.

No lugar disso, propõe-se uma avaliação do risco caso a caso, proibindo-se apenas os que “apresentem risco inaceitáve­l para os seres humanos ou para o meio ambiente”.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão do Ministério da Saúde, afirma que o Brasil não tem estrutura para assegurar a proteção à saúde pública caso haja essa mudança.

“A permissão do registro de produtos com essas caracterís­ticas torna-se inviável consideran­do as condições e tecnologia­s de aplicação de agrotóxico­s, a ausência de estudos que simulem a realidade de exposição aos agrotóxico­s, o nível de desenvolvi­mento social dos trabalhado­res rurais, o grau de complexida­de da avaliação do risco e a vulnerabil­idade de determinad­os segmentos populacion­ais, como bebês, crianças, mulheres grávidas ou em idade fértil, idosos, além dos trabalhado­res rurais e familiares.”

O deputado que relata o projeto se defende: “Sempre que usados em respeito às boas práticas agrícolas, os defensivos não oferecem riscos à saúde do agricultor, dos animais, das plantas, dos consumidor­es ou ao ambiente”, diz Nishimori.

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