Folha de S.Paulo

XP pressiona Banco Central por venda ao Itaú

Cúpula de plataforma de investimen­tos procura Ilan para evitar entraves a negócio de R$ 5,7 bi que precisa de aprovação

- -Julio Wiziack e Mariana Carneiro

brasília Antevendo entraves à operação com o Itaú Unibanco, a cúpula da XP Investimen­tos se reuniu com a diretoria do Banco Central nesta sexta-feira (27), em São Paulo.

O dono da plataforma de investimen­tos, Guilherme Benchimol, esteve com o presidente do BC, Ilan Goldfajn, e diretores. Uma hora antes, foi a vez do presidente do conselho de administra­ção do Itaú, Roberto Setubal.

A XP marcou a reunião para aplacar rumores de que o BC reprovará a operação.

Setubal negou ter discutido o negócio com Goldfajn. “Não tratei de nada relacionad­o à XP”, disse.

A compra da XP Investimen­tos pelo Itaú é um negócio de pelo menos R$ 5,7 bilhões, a ser feito em etapas e concluído em 2022. A plataforma de investimen­tos se tornou a maior do país e é uma importante concorrent­e dos bancos —incluindo o Itaú.

Está nas mãos da diretoria do BC a análise da operação após o Cade (conselho de defesa da concorrênc­ia) ter dado sinal verde, impondo restrições, em março. Para o negócio ser concluído, é necessário o “duplo sim”.

A preocupaçã­o ganhou força depois de uma declaração do ex-presidente do BC Arminio Fraga, que condenou a compra da XP pelo Itaú por ver risco de concentraç­ão.

Segundo pessoas envolvidas na análise da aquisição, o BC estuda aprovar o negócio, porém deverá impor restrições adicionais que limitarão a influência do Itaú na XP.

O veto está descartado, dizem, porque a análise do risco à concorrênc­ia já foi concluída pelo Cade, e o BC não poderia apresentar argumentos totalmente diferentes.

A operação é a primeira que é analisada à luz do memorando de entendimen­tos entre os dois órgãos, em que as equipes técnicas trocaram informaçõe­s e também impressões sobre o tema.

No entanto, para garantir a independên­cia operaciona­l da XP, o BC deverá impor condições mais severas do que as do Cade.

Uma das restrições em estudo é proibir que o Itaú tenha representa­ntes no conselho de administra­ção da XP, mesmo adquirindo o controle.

No acordo com o Cade ficou acertado que o Itaú não poderá ter capacidade de decisão na XP até concretiza­r a compra do controle, em 2022. Mas poderá indicar dois representa­ntes no conselho de administra­ção da XP, formado por sete integrante­s.

Na análise feita pelo Cade, dois conselheir­os (Cristiane Alkmin e João Paulo de Resende) vetaram a operação.

Em seu voto, Alkmin criticou a potencial influência do Itaú via conselho de administra­ção da XP.

“Teria sido oportuno exigir que o Itaú (...) não indicasse absolutame­nte ninguém para a XP. Nem para o conselho de administra­ção nem para qualquer cargo executivo.”

Os conselheir­os demonstrar­am a preocupaçã­o de que a compra da XP pelo Itaú poderá abrir a possibilid­ade de que outros bancos avancem sobre concorrent­es que despertam entre as fintechs (empresas de tecnologia do setor financeiro).

Além disso, com a operação, observou Alkmin em seu voto, o Itaú abocanha a base de clientes construída pela XP, obtida graças ao avanço sobre a clientela dos bancos.

Ao funcionar como um supermerca­do digital de investimen­tos, a XP conquistou clientes de instituiçõ­es financeira­s tradiciona­is em razão da oferta de um cardápio mais variado de aplicações, que inclui opções em diferentes bancos e fundos.

Nos bancos, os clientes só adquirem produtos lançados ou administra­dos pela própria instituiçã­o e, em geral, com retornos mais baixos.

As críticas de Arminio causaram apreensão entre os acionistas da plataforma de investimen­tos e do banco porque, segundo eles, o ex-presidente do BC é mentor de uma geração de economista­s da instituiçã­o.

Além disso, a análise da operação ocorre em um momento em que Goldfajn e sua equipe atua em diferentes frentes para fomentar a competição no setor financeiro e baixar os juros ao consumidor por meio da concorrênc­ia.

Apesar da queda da taxa básica, administra­da pelo BC, as taxas cobradas pelos bancos não estão cedendo na mesma velocidade, e este é um dos motivos da lenta recuperaçã­o.

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