Folha de S.Paulo

Covas cria armadilhas com bueiros desnivelad­os

Programa de recapeamen­to deixado por Doria (PSDB) falha ao gerar de ondulações a buracos em ruas e avenidas de SP

- -Artur Rodrigues

são paulo A gestão Bruno Covas (PSDB) tem esquecido de nivelar parte dos bueiros de ruas que passaram por recapeamen­to, o que deixa armadilhas no caminho de quem trafega pelas vias de São Paulo. Motociclis­tas estão entre os mais afetados pelos buracos.

O programa de recapeamen­to, chamado Asfalto Novo, foi a principal vitrine do ex-prefeito João Doria (PSDB), que abandonou a prefeitura para disputar o governo estadual.

Medida de grande visibilida­de e resultado rápido, custará R$ 550 milhões aos cofres municipais, mais do que investimen­tos previstos para saúde e educação neste ano.

Com a camada nova de asfalto, a altura da pista pode ter um ligeiro aumento, enquanto o bueiro permanece no mesmo nível de antes. Isso gera desde ondulações a buracos.

A reportagem da Folha rodou por vias recapeadas nas zonas oeste, sul e norte e encontrou a situação parecida em todas elas. A rua Barão de Passagem, na região da Vila Leopoldina, zona oeste, por exemplo, tem ao menos cinco obstáculos do tipo.

“O asfalto melhorou, mas tiraram a lombada, os carros vêm mais rápido e acabam caindo nos buracos dos bueiros”, diz o vigilante Francisco Alexandre da Silva, 33, que trabalha na rua e presencia todos os dias situações de risco.

Motociclis­ta e comerciant­e da rua, Eduardo dos Santos, 43, afirma que no caso de quem usa moto a situação é pior. “É perigoso. Às vezes, fica impossível desviar, e você cai dentro do buraco”, diz.

Segundo ele, já havia um pequeno desnível em relação ao bueiro. Com a reforma na pista, o buraco cresceu. “Melhorou o asfalto, mas nunca fazem 100%. Sempre fica um pelo que você puxa e pode sair um macaco.”

A reportagem presenciou motociclis­tas tendo de se equilibrar para desviar de buracos, enquanto outros se assustavam ao passar por ele. “Quando a roda cai, é desconfort­ável. É um impacto muito grande. E se não estiver atento, pode sofrer um acidente”, diz o entregador Silvânio Tenório, 32”. No escuro, diz, é preciso ainda mais atenção.

O presidente do Movimento Brasileiro de Motociclis­tas, Luiz Artur Cane, afirma que há vários registros de acidentes graves motivado por tampas de bueiro desnivelad­as, que não são exclusivid­ade das ruas que passaram pelo Asfalto Novo nem de São Paulo.

No fim do ano passado, em Goiânia (GO), por exemplo, uma policial civil morreu após se desequilib­rar sobre um obstáculo do tipo. A mulher de 27 anos caiu da moto e foi atropelada por outro motociclis­ta.

“Você tem motos hoje, as scooters, que são ainda mais vulnerávei­s, devido ao tamanho da roda, que é menor”, afirma Cane. Quem usa bicicleta também é afetado.

Em algumas ruas visitadas pela reportagem, apenas parte dos bueiros passou por ajuste após o recapeamen­to. Outros foram esquecidos.

É o que acontece no cruzamento das ruas Guaicurus e Crasso, na Lapa, também na zona oeste, onde um vão de cerca de cinco centímetro­s de altura se formou sobre a faixa de pedestres.

A situação se repete na avenida Braz Leme, na Casa Verde, zona norte. A via foi uma das visitadas pelo ex-prefeito Doria, que posou para fotos mostrando a nova pista.

Ao menos um grande vão, porém, sobrou na via, na altura da rua Maria Curupaiti, sem falar em pontos onde o pavimento recém-aplicado começa a se desfazer.

Na avenida Ibirapuera, na zona sul, a reportagem encontrou equipes quebrando o asfalto para fazer o alinhament­o dos bueiros na quinta-feira (26). A via, no entanto, começou a receber a nova camada de asfalto dois meses atrás.

O TCM (Tribunal de Contas do Município) publicou resolução em 2016 que prevê que não pode ser realizado nenhum tipo de recapeamen­to sem o nivelament­o dos chamados “tampões de poços de visita”, nome técnico dos bueiros.

Em votação unânime dos conselheir­os, o órgão definiu que é obrigatóri­o que todas as licitações exijam o serviço complement­ar de ajuste.

A Folha revelou neste mês que as faixas de pedestres e sinalizaçã­o de solo são apagados para o asfaltamen­to e as vias reabertas sem que a pintura seja refeita. O Código de Trânsito Brasileiro deixar claro que “nenhuma via pavimentad­a pode ser reaberta ao trânsito após a realização de obras enquanto não estiver devidament­e sinalizada, vertical [com placas] e horizontal­mente [com faixas]”.

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Fotos Danilo Verpa/Folhapress Bueiro desnivelad­o na avenida Braz Leme, na zona norte de São Paulo, que chegou a ser visitada pelo ex-prefeito João Doria (PSDB)
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Desnível de asfalto na rua Barão da Passagem, Vila Leopoldina

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