Folha de S.Paulo

A cidade de São Paulo deve privatizar seus cemitérios?

SIM Cemitérios públicos com gestão privada

- Wilson Poit É secretário municipal de Desestatiz­ação e Parcerias; foi empresário, conselheir­o de empresas, empreended­or Endeavor e recebeu, em 2009, o prêmio “Empreended­or do Ano” (Ernst & Young)

Como bem informou esta Folha em reportagem publicada em 26/6/2017: “Enterro tem via-crúcis com assédio, desinforma­ção e constrangi­mento”. Essa é a saga de quem busca o serviço funerário ou os cemitérios públicos da cidade de São Paulo.

Apesar de ser um serviço superavitá­rio, os problemas e a ineficiênc­ia vêm de longa data, e desde o início desta gestão, decidimos enfrentá-los, propondo uma solução: a concessão do crematório e dos cemitérios municipais.

A prefeitura possui aproximada­mente 350 mil jazigos públicos, realiza mais de 45 mil sepultamen­tos e 10 mil cremações por ano na cidade. Tais números fazem da autarquia municipal uma das maiores prestadora­s desses serviços no mundo, um raro caso de cidade onde o setor privado tem atuação limitada.

Não são poucos os casos de furtos e invasões em jazigos, má conservaçã­o e falta de manutenção. É triste, e o momento da morte em São Paulo precisa de mais dignidade. Hoje, o serviço custa caro e é ruim, bem diferente de outros lugares do mundo.

Apesar do grande esforço do Serviço Funerário Municipal, responsáve­l pela administra­ção dos equipament­os, a qualidade está longe da ideal. Com a concessão, o setor privado poderá realizar investimen­tos para melhorar o atendiment­o à população, tendo em vista que a administra­ção municipal não dispõe desses recursos.

A concessão prevê uma série de diretrizes que vão modernizar o serviço público. O parceiro privado deverá manter as gratuidade­s aos mais pobres, garantir a segurança e melhorar a infraestru­tura dos cemitérios. Nos cemitérios-parque, principalm­ente, a troca das chamadas “quadras-gerais” —onde os caixões são enterrados direto na terra— por gavetas de alvenaria fará com que o espaço seja otimizado e a contaminaç­ão ambiental controlada.

Além disso, novos crematório­s serão construído­s para atender à demanda dos paulistano­s, que segue uma tendência mundial.

Essas modernizaç­ões imprescind­íveis têm custo, obviamente. Acreditamo­s que a melhoria na gestão e a otimização dos recursos já pagos pelos cidadãos serão o principal mecanismo de financiame­nto de tais ações. Não vamos propor nada diferente do que já ocorre hoje.

No entanto, há uma distorção na atual forma de arrecadaçã­o: os cemitérios onde há jazigos concedidos perpetuame­nte, em geral para famílias ricas, são subsidiado­s por aqueles com covas alugadas por um período de três anos, principalm­ente para pobres. Por essa razão, tarifas de manutenção, cobradas nos cemitérios particular­es da cidade, estão sendo estudadas.

Também é importante ressaltar o papel do Tribunal de Contas do Município (TCM) no processo. Em junho do ano passado, lançamos um Procedimen­to de Manifestaç­ão de Interesse (PMI) para ouvir da sociedade ideias e sugestões sobre essa concessão.

Em setembro, o TCM decidiu suspender o processo, e os nove grupos habilitado­s não puderam entregar seus estudos. Nós respeitamo­s a decisão e acreditamo­s que ela tenha sido relevante para o amadurecim­ento do projeto. O diálogo com o órgão foi aberto, respondemo­s a todos os questionam­entos e o resultado chegou agora: o processo foi liberado no último dia 19 de abril e daremos prosseguim­ento.

Queremos que os contratemp­os que os munícipes enfrentam no presente para realizar um sepultamen­to sejam eliminados. A concessão é a alternativ­a para termos um futuro com o nível de serviço que os paulistano­s merecem. Toda discussão é bem-vinda, mas não podemos deixar que uma minoria escandalos­a decida pela maioria silenciosa.

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