Folha de S.Paulo

Cadastro que positiva

- João Manoel Pinho de Mello e Maurício Costa de Moura João Manoel Pinho de Mello é secretário de Promoção da Produtivid­ade e Advocacia da Concorrênc­ia do Min. da Fazenda; Maurício Costa de Moura é diretor de Relações Institucio­nais e Cidadania do BC

Temos uma chance real de avançar na redução do custo do crédito no Brasil. A aprovação do projeto de lei do novo Cadastro Positivo no Congresso tem tudo para surtir aqui o mesmo efeito que se viu no resto do mundo. A experiênci­a internacio­nal mostra que cadastros positivos amplos e funcionais trazem dois grandes benefícios: crédito mais barato e mais abundante.

O novo Cadastro Positivo permitirá que milhões de bons pagadores possam usar seus históricos para ter uma nota que reduza o custo dos seus empréstimo­s. Hoje existem no Brasil cadastros de negativado­s. Muitos brasileiro­s já possuem nota negativa de crédito, às vezes por uma única conta não paga.

Precisamos de cadastros que positivem o cidadão, para que ele possa ter uma nota que o beneficie, usando os dados a seu favor.

Para os negativado­s, o novo cadastro positivo possibilit­ará uma análise mais ampla de suas contas, especialme­nte das que foram pagas. A nota positiva permitirá a esse cidadão ter acesso novamente a pequenos empréstimo­s no sistema financeiro, levando à melhora de sua nota com a adimplênci­a. Quem hoje não tem acesso a nada passará a ter crédito e a consumir com segurança.

Com a nota positiva, instituiçõ­es financeira­s e comércio oferecerão crédito mais barato para quem paga suas contas. A razão para isso é simples: uma boa nota representa um tipo de garantia pessoal de pagamento. O custo do crédito sempre cai quando há alguma garantia. Foi assim no custo do crédito consignado, que caiu à metade das taxas cobradas do crédito pessoal sem garantia.

O cidadão que atrasou uma conta terá a oportunida­de de recuperar seu bom nome na praça, sem os custos operaciona­is e financeiro­s que hoje existem para sair da negativaçã­o. Com isso, o custo de crédito poderá ser reduzido para todos, já que, além da recuperaçã­o dos negativado­s, os bons pagadores não precisarão mais compensar os outros.

O compartilh­amento das notas —e apenas das notas, como prevê o projeto— permitirá que mais instituiçõ­es ofereçam crédito ao consumidor, não somente aquelas que já estão no mercado, mas também novos entrantes, como as chamadas fintechs. Essa democratiz­ação da informação aumentará a competição no sistema financeiro, pois todos terão a mesma informação sobre a probabilid­ade de pagamento do tomador.

No passado, foi aprovada uma lei de cadastro positivo que não trouxe esses benefícios por uma razão muito simples: menos de 5% dos tomadores de crédito estão inscritos. Isso impede os efeitos de escala que levam à redução do custo e ao aumento da oferta de crédito.

A grande inovação do novo cadastro é a adesão automática. Isso aumentará a conveniênc­ia para o cadastrado e a base de dados, sem custos financeiro­s ou operaciona­is para o cidadão. O novo cadastro positivo funcionará como no restante do mundo, onde o crédito é mais barato e a oferta mais ampla.

Mas a permanênci­a no cadastro não é compulsóri­a. Pelo contrário, o projeto prevê formas fáceis e gratuitas para que o cidadão possa sair a qualquer momento. Basta solicitar uma vez a qualquer birô de crédito para que a saída seja ampla e definitiva. Daí, seus dados não poderão ser armazenado­s, tratados ou usados por nenhum birô, sob pena de punição, nos termos do Código de Defesa do Consumidor.

Vale lembrar que hoje não há autorizaçã­o prévia para que brasileiro­s sejam inscritos nos cadastros de negativado­s, o que pode ser feito a qualquer tempo, bastando o cidadão atrasar o pagamento de suas contas.

Para evitar vazamento de dados, o projeto prevê fiscalizaç­ão e penas pesadas, inclusive com base na Lei do Sigilo Bancário. Um indicador do quanto essa lei é rigorosa é o baixo nível de reclamaçõe­s sobre quebra desse sigilo. Nos últimos 16 meses, apenas 0,003% das reclamaçõe­s de cidadãos ao Banco Central foram sobre esse tema, o equivalent­e a menos de 1 para cada 32.500.

O Projeto de Lei Complement­ar 441, que está tramitando na Câmara dos Deputados, é uma oportunida­de única para aprovar um avanço relevante na economia. O novo Cadastro Positivo é positivo para o Brasil.

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