Folha de S.Paulo

Wilson Mello Neto O que nós produzimos é alimento, não é algo nocivo à sociedade

Presidente de associação da indústria alimentíci­a diz que obesidade é desafio; em ano de eleições e Copa, ele vê setor em recuperaçã­o

- -Raquel Landim

são paulo A indústria de alimentos reconhece que a obesidade vem se tornando um problema no Brasil, mas não quer ser a vilã dessa história. A afirmação é de Wilson Mello Neto, novo presidente do conselho da Abia, associação que reúne as empresas do setor.

“Precisamos evitar que se crie esse mito. O que é produzimos é alimento, não é algo nocivo a sociedade”, disse Mello à Folha em sua primeira entrevista no cargo. O executivo é vice-presidente de assuntos corporativ­os da Danone.

A Abia acaba de passar por uma reformulaç­ão geral de sua governança, com a criação de um conselho e uma diretoria-executiva. Depois de 32 anos, Edmundo Klotz deixou o cargo de presidente.

A Abia mudou seu presidente depoisde32­anos.Porquê?

O consumidor mudou. Ele opina mais e pergunta mais. Ao longo dos últimos anos, a indústria tem feito um esforço para criar um novo relacionam­ento com o consumidor.

A entidade que representa a indústria também precisa seguir na mesma direção. Não é um processo de ruptura, mas de evolução, respeitand­o o legado de 55 anos de existência da Abia. Tanto que tivemos uma chapa única. O Edmundo (Klotz) estará num conselho consultivo. Mas, para liderar esse processo, entendemos que era importante eleger novas lideranças e implementa­r um novo modelo de gestão e governança.

Quais são os pilares dessa nova governança?

Toda essa mudança nasce com a aprovação de um novo estatuto social para a entidade em março deste ano. Criamos um conselho diretor, uma diretoriae­xecutiva, um comitê de éti- ca, compliance e integridad­e e outros comitês temáticos.

Qual deve ser o principal desafio do setor na sua gestão?

Temos de começar a discussão por tema que a entidade e a sociedade reconhecem como um problema: a obesidade. Mas precisamos enfrentar essa questão de uma maneira correta, serena e sem muitas paixões.

A indústria tem um papel como parte da solução, mas não é a única causa da obesidade. A origem do problema é multifator­ial, incluindo hábitos alimentare­s e exercícios físicos. Apenas 20% da in-

Já é praticamen­te consenso nos países desenvolvi­dos que a indústria de alimentos colabora com a obesidade, produzindo e promovendo produtos calóricos. Temos responsabi­lidade e somos um ator importante nessa discussão. Vamos conversar com todos os atores envolvidos —sociedade civil, governo, consumidor—, mas precisamos evitar que se crie um mito de que o alimento industrial­izado é o vilão.

A indústria de alimentos no Brasil tem 35 mil empresas, R$ 600 bilhões de faturament­o, o que significa 10% do PIB, gera 1,6 milhão de empregos diretos. Essa indústria é parceria da população. O que nós produzimos é alimento, não é algo nocivo à sociedade.

O governo brasileiro está discutindo novas regras de rotulagem, que deixem evidente para o consumidor a composição nutriciona­l dos alimentos. A indústria é contra?

Existe um consenso entre todos —indústria, governo, entidades de defesa do consumidor— de que precisamos melhorar a informação nutriciona­l dos alimentos.

A indústria concorda com esse fato e quer colaborar no processo. A indústria apresentou a sua proposta formalment­e ao governo, baseada no conceito de semáforo. Conforme a concentraç­ão dos componente­s —açúcar, gordura e sódio—, o produto receberá as marcas das cores vermelho, amarelo e verde. Hoje no mundo existem 16 modelos de rotulagem já utilizados e 10 em discussão. O Brasil vai ter de criar seu modelo.

A entidade está preocupada com as reformas estruturai­s que o Brasil precisa?

A inflação está sob controle, o emprego vem retomando ainda que de maneira tímida, mas já estamos vendo alguma evolução. O que efetivamen­te trava a economia e depende de um esforço muito grande é a reforma tributária.

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