Tragédia revela todas as mazelas da habitação de que sofre a maior cidade do país
de casa não seria possível se não houvesse um escandaloso déficit habitacional no país, incluindo sua maior cidade.
Pior, quando o poder público oferta moradia é quase sempre em áreas distantes do centro, em projetos como Minha Casa Minha Vida, submetendo seus moradores a um apartheid social. Ocupações no centro são uma forma de driblar isso.
Impostos crescentes para imóveis desocupados não fizeram efeito até hoje. É preciso cobrar mais.
Mas a especulação imobiliária só é possível também porque os governos não atuam comprando imóveis vazios no centro, que resultariam em benefício em prazo curto. Sem condições de vender, os proprietários ficam anos com um patrimônio parado, expostos a invasões e à desvalorização.
Governos brasileiros não se aproveitam dessa oportunidade, preferem construir conjuntos populares, que afastam trabalhadores do centro empregador e concentram pessoas de um só perfil social.
A tragédia do 1º de Maio vai expor essas e outras mazelas. Nos anos 1970, dois grandes incêndios no centro da cidade acordaram o paulistano para o risco do fogo.
Se ao menos tivermos agora efeito semelhante, o sacrifício dos moradores do Paissandu não será totalmente em vão. Se expuser e desmoralizar movimentos sem-teto malandros, também.
E se forçar o poder público a rever suas políticas de habitação popular, forçando um apressamento da oferta de unidades, os mártires de hoje terão provocado um milagre.