Folha de S.Paulo

Tragédia revela todas as mazelas da habitação de que sofre a maior cidade do país

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de casa não seria possível se não houvesse um escandalos­o déficit habitacion­al no país, incluindo sua maior cidade.

Pior, quando o poder público oferta moradia é quase sempre em áreas distantes do centro, em projetos como Minha Casa Minha Vida, submetendo seus moradores a um apartheid social. Ocupações no centro são uma forma de driblar isso.

Impostos crescentes para imóveis desocupado­s não fizeram efeito até hoje. É preciso cobrar mais.

Mas a especulaçã­o imobiliári­a só é possível também porque os governos não atuam comprando imóveis vazios no centro, que resultaria­m em benefício em prazo curto. Sem condições de vender, os proprietár­ios ficam anos com um patrimônio parado, expostos a invasões e à desvaloriz­ação.

Governos brasileiro­s não se aproveitam dessa oportunida­de, preferem construir conjuntos populares, que afastam trabalhado­res do centro empregador e concentram pessoas de um só perfil social.

A tragédia do 1º de Maio vai expor essas e outras mazelas. Nos anos 1970, dois grandes incêndios no centro da cidade acordaram o paulistano para o risco do fogo.

Se ao menos tivermos agora efeito semelhante, o sacrifício dos moradores do Paissandu não será totalmente em vão. Se expuser e desmoraliz­ar movimentos sem-teto malandros, também.

E se forçar o poder público a rever suas políticas de habitação popular, forçando um apressamen­to da oferta de unidades, os mártires de hoje terão provocado um milagre.

 ?? Eduardo Anizelli/ Folhapress ?? Doações deixadas no largo do Paissandu para os desabrigad­os do edifício Wilton Paes de Almeida
Eduardo Anizelli/ Folhapress Doações deixadas no largo do Paissandu para os desabrigad­os do edifício Wilton Paes de Almeida

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