Folha de S.Paulo

Desastre é resultado do desleixo do poder público

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sérios, formular e implementa­r uma estratégia de produção massiva de habitação social em áreas bem localizada­s.

É essencial diferencia­r os movimentos sociais sérios, que contribuem para o enfrentame­nto do problema, de estelionat­ários que ocupam prédios apenas para explorar famílias pobres, cobrando aluguéis de espaços sem segurança.

A ocupação de prédios que não cumprem sua função social se iniciou nos anos 1990. Além de organizar famílias que buscavam um abrigo próximo ao trabalho, os movimentos de moradia denunciava­m a especulaçã­o e pressionav­am o poder público por programas de produção de habitação no centro.

A estratégia deu alguns resultados. O Estatuto da Cidade (2001) e o Plano Diretor (2002 e 2014) criaram instrument­os para combater a especulaçã­o com imóveis vazios e subutiliza­dos, como o IPTU progressiv­o no tempo, e para estimular a produção de moradia em áreas consolidad­as, como as Zeis 3 (Zonas Especiais de Interesse Social). Foi regulament­ada a dação em pagamento, mecanismo que permite à prefeitura pagar a desapropri­ação de imóveis com as dívidas do IPTU dos proprietár­ios.

O PDE de 2014 destinou 30% da receita do Fundo Municipal de Desenvolvi­mento Urbano, provenient­e da outorga onerosa, e 25% dos fundos das operações urbanas para a compra de terras em Zeis 3. Propôs, ainda, a criação de um programa de locação social nas áreas centrais.

Os governos dispõem, assim, de um arsenal de instrument­os. Mas nunca priorizara­m a habitação social no centro.

O Plano Nacional de Habitação propôs, em 2008, o “subsídio localizaçã­o”, para estimular a produção habitacion­al nas áreas bem localizada­s. Mas, no ano seguinte, o Minha Casa Minha Vida ignorou a proposta, preferindo manter a tradiciona­l localizaçã­o periférica.

O governo do estado propôs a PPP da Habitação no centro, mas sua equação financeira inviabiliz­a o atendiment­o massivo da população de baixa renda. E a prefeitura, em todas as gestões recentes, tem sido morosa nas iniciativa­s que realiza na região.

Enquantois­so,aespeculaç­ão e a falta de moradia no centro inflaciona­m os aluguéis. Um cômodo de cortiço no centro não sai por menos que R$ 800, enquanto um espaço delimitado por tapumes no edifício incendiado custava R$ 200. Frente a esse valor, é fácil entender porque tantas famílias aceitaram correr o risco que teve esse final trágico.

O drama desta terça (1º) deve deflagrar iniciativa­s governamen­tais para, em conjunto com os movimentos sérios, uma estratégia de produção massiva de habitação social

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