Dois filhos de Zuleica
Série idealizada por Walter Salles e Sérgio Machado, ‘Os Irmãos Freitas’ conta história do boxeador Popó e a ascensão e queda de Luís Cláudio, seu irmão, promessa no esporte antes dele 3 4 história. Lembra de seus primeiros passos no boxe, quando não tinha um tênis para treinar e percorria descalço os seis quilômetros entre sua casa e a academia. E fala da sua trajetória no boxe, encerrada sem a atingir a título mundial.
Tal qual a história dos irmãos Freitas, o projeto de transpor a trajetória dos boxeadores para as telas também revelou-se uma corrida de obstáculos.
A ideia de contar a história de Popó veio do cineasta Walter Salles, que assina a supervisão artística da série.
Inicialmente, a ideia era fazer um longa-metragem. Ao trabalhar o roteiro, Sérgio Machado, que assina a direção com Aly Muritiba, viu-se diante do desafio de condensar em duas horas a trajetória dos dois irmãos.
Em determinado momento, viu que a história simplesmente não cabia em um filme.
Ao todo, foram cinco anos de desenvolvimento do roteiro até chegar ao seu formato final, feito em parceria por Machado, George Walker e Pedro Perazzo.
O desafio seguinte foi o casting dos atores. Retomando uma fórmula usada por Salles e Machado no filme “Central do Brasil” (1998), dezenas de atores foram testados para cada papel —do protagonista a treinadores cubanos e pugilistas mexicanos.
Daniel Rocha, escolhido para representar Popó, trazia em sua bagagem uma experiência de atleta infantil de kickboxing.
Foi dele a ideia de gravar uma das cenas mais marcantes da série: uma desidratação semelhante à que os boxeadores fazem antes da pesagem para as lutas. A cena mostra Popó treinando por horas dentro de uma sauna, de onde sai esquálido, babando e chorando. Daniel perdeu quatro quilos em um dia.
Já Rômulo Braga, que interpreta Luís Cláudio, não tinha experiência com lutas e teve um desafio a mais para encarnar o boxeador: “Fui tentar aprender o básico para fazer uma coreografia e responder à altura. Mas é muito difícil. É uma coordenação, uma inteligência que parece coisa de outro mundo”, diz.
O diretor Aly Muritiba destaca o envolvimento da comunidade do boxe no projeto. Além de aconselhar e treinar os atores e a equipe, os profissionais do boxe também atuam na série.
“Nas cenas de luta, o árbitro é um árbitro, o treinador é um treinador e os lutadores são lutadores mesmo”.
Com quatro meses de gravações, a série está na reta final e, em breve, entra em fase de edição. O resultado tem empolgado a equipe: “Estou com a sensação que estamos fazendo uma coisa muito especial”, afirma Sérgio Machado.
Ele lembra de uma cena específica que levou toda a equipe às lágrimas. Nela, Luís Claudio, irmão de Popó, questiona o porquê do incômodo daqueles “que têm tanto” diante do avanço daqueles “que têm tão pouquinho”. Diz saber o seu valor, mas reclama da falta de oportunidades.
“Foi um desabafo sobre um monte de coisa que está acontecendo no país. Ele está falando dele, mas também está falando do Brasil”, diz o diretor.