Folha de S.Paulo

Inspiração macabra

- Ruy Castro

rio de janeiro Ninguém mais pode dar um passo em falso, fazer-se de sonso ou fingir que não fez. Sempre haverá alguém para enxergar o que milhões de outros não viram ou não se deram conta. O último exemplo é o vestido usado por Kate Middleton à porta do hospital em Londres onde, poucas horas antes, no dia 23, ela dera à luz o príncipe Louis Arthur, filho de William, herdeiro da coroa britânica. Alguém descobriu e jogou no online que aquele vestido vermelho com gola de renda bordada era igual ao usado por Mia Farrow no filme “O Bebê de Rosemary”, de 1968.

Não entendo de vestidos, mas gosto de histórias de terror, e “O Bebê de Rosemary”, tanto o romance de Ira Levin quanto o filme de Roman Polanski, conta uma das maiores de todos os tempos. Para quem não se lembra, Rosemary é uma jovem mãe que, sem saber, foi inseminada por um congresso de bruxos e carrega dentro dela o filho do Diabo. Mas a ideia de que a bela Kate possa estar repetindo o destino de Rosemary e de que o filho das Trevas logo estaria saracotean­do pelo Palácio de Buckingham deixa longe o próprio Levin.

É o mesmo vestido e, se duvida, veja o filme. Rosemary o usa durante seis minutos, de 1h17min a 1h23min da projeção. A diferença é que este foi criado pela figurinist­a Anthea Sylbert, como se pode ler nos créditos. O de Kate Middleton foi assinado por Jenny Packham. Eu disse assinado —parece ter sido a única alteração feita por Packham em relação ao original.

Talvez não seja um plágio puro e simples. Para alguns, a própria Kate pode tê-lo encomendad­o de propósito —com o que revelaria um macabro, mas maravilhos­o senso de humor, digno das melhores tradições da família real inglesa desde Henrique 8º.

Por que não? Em seu parto anterior, o da princesa Charlotte, Kate transporto­u-a num carrinho de bebê de modelo antigo, também idêntico àquele em que Rosemary embalou seu recém-nascido diabinho.

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