Folha de S.Paulo

Filha de Temer diz à PF ter pago reforma com dinheiro da mãe

Em depoimento, Maristela não mostrou comprovant­es e admitiu que mulher de coronel fez alguns pagamentos de obra

- -Camila Mattoso, Marcelo Toledo e Gabriela Sá Pessoa

brasília, ribeirão preto e são paulo Uma das filhas do presidente Michel Temer, Maristela, disse à Polícia Federal que usou empréstimo­s e dinheiro da mãe para pagar uma reforma em sua casa, em 2014.

A obra é investigad­a pela PF, que suspeita que o presidente tenha lavado dinheiro de propina com reformas em imóveis de familiares e em transações imobiliári­as em nomes de terceiros, na tentativa de ocultar bens.

No depoimento nesta quinta (3), Maristela não apresentou comprovant­es. Ela ainda admitiu que Maria Rita Fratezi, mulher do coronel João Baptista Lima Filho, fez alguns pagamentos, mas negou que o recurso tenha vindo de seu pai.

O coronel é apontado por delatores como um intermediá­rio de Temer para o recebiment­o de propina.

Maristela falou por cerca de quatro horas a policiais federais em São Paulo, no aeroporto de Congonhas. A psicóloga chegou e saiu do local sem que fosse vista por jornalista­s.

O conteúdo do depoimento foi revelado pelo “Jornal Nacional” e confirmado pela Folha.

Em março, um fornecedor da obra feita Maristela afirmou à Folha que recebeu pagamentos das mãos de Fratezi, em dinheiro vivo.

“Foi Maria Rita Fratezi quem fez os pagamentos, em espécie, em parcelas. Os pagamentos foram feitos dentro da loja”, disse Piero Cosulish, da Ibiza Acabamento­s.

“Ela [Maria Rita] vinha fazer o pagamento. Se estava dentro de um envelope, dentro de uma bolsa, não sei te confirmar”, acrescento­u.

Fernando Castelo Branco, advogado da filha do presidente, disse à Globo que o “auxílio” da mulher do coronel foi dado “por carinho a Maristela”, “por conhecer desde criança”.

Cosulish foi intimado pela PF e deve ser ouvido nesta sexta.

Os depoimento­s fazem parte do inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal que investiga se empresas do setor portuário pagaram propina para a edição de um decreto, assinado por Temer no ano passado.

A estimativa dos investigad­ores é de que a reforma tenha custado cerca de R$ 1,5 milhão.

A obra passou a ser objeto de apuração quando a polícia encontrou na casa do coronel, em uma busca e apreensão, comprovant­es de pagamentos a fornecedor­es.

Até o momento, a apuração da polícia aponta que o presidente recebeu, por meio do coronel Lima, ao menos R$ 2 milhões de propina em 2014.

A origem desse dinheiro são, para a investigaç­ão, a JBS e uma empresa contratada pela Engevix.

A reportagem tentou contato com a defesa de Maristela, mas nenhuma ligação foi atendida.

Mais cedo, Temer reagiu com ironia ao ser questionad­o se estava preocupado com o depoimento de sua filha. “Registre o meu sorriso”, disse.

Temer visitou nesta quinta a Agrishow, em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

Ele chegou à feira por volta das 9h50, visitou estandes e ligou uma das máquinas expostas a produtores rurais.

Cerca de dez minutos depois, o delegado Cleiber Lopes, responsáve­l pela investigaç­ão envolvendo o presidente, entrou na delegacia da PF, em São Paulo, para iniciar o depoimento de Maristela.

Em Ribeirão, o emedebista fez rápido pronunciam­ento sobre o momento do agronegóci­o e as perspectiv­as para a economia.

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Joel Silva/Folhapress ‘Registre o meu sorriso’, disse o presidente em sua visita à feira agrária Agrishow, em Ribeirão Preto (SP)

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