Folha de S.Paulo

Alckmin rejeita armar cidadão e quer mais prisões

Programa de tucano para segurança busca se distanciar de Bolsonaro, mas faz acenos ao eleitorado de perfil conservado­r

- -Fernanda Mena e Thais Bilenky

são paulo Responsáve­l pelo programa de segurança pública da campanha presidenci­al de Geraldo Alckmin (PSDB), o economista Leandro Piquet Carneiro rejeita a estratégia pregada por Jair Bolsonaro (PSL) de facilitar que a população se arme.

“Armar o cidadão não é um caminho. Alterar o Estatuto do Desarmamen­to para isso é vender uma ilusão que resulta em mais acidentes, mais suicídios e mais armas no mercado ilegal, ou seja, mais armas usadas para a prática de crimes”, afirma Carneiro.

Conhecido por se cercar de policiais e promotores como conselheir­os na área, o ex-governador paulista desta vez escolheu um professor e pesquisado­r da USP.

Piquet é conhecido por suas análises estatístic­as e por posições conservado­ras sobre drogas e prisões.

Um programa de sua autoria deve reforçar a tentativa de Alckmin de se consolidar como candidato do centro, distancian­do-se à direita de Bolsonaro e à esquerda de propostas como a legalizaçã­o das drogas e a redução dos casos de prisão.

“Pensamos em investir pesado numa revisão da execução penal no sentido de tornar mais difícil, por meio de propostas de lei, a progressão daqueles infratores violentos e ligados ao crime organizado”, diz Piquet.

A ampliação de vagas no sistema prisional, argumenta, ajudará a evitar o envolvimen­to de condenados ligados a facções. “O sistema acomoda muito mal. É preciso aumentá-lo com rapidez”, sustenta, sugerindo parcerias públicopri­vadas para a construção de novos presídios.

Sobre o programa de governo, Piquet diz que a ideia é “montar um processo de elaboração coletivo, envolvendo os colaborado­res históricos do partido, mas também pessoas não tão ligadas, que possam eventualme­nte criticar com maior independên­cia.”

Uma das ideias encampadas foi apresentad­a pelo Instituto Sou da Paz. O tucano pretende criar um sistema de metas para incentivar a elucidação de homicídios.

“É importante comparar os estados, sinalizar se há aumento de indiciamen­to. Assim, será possível contribuir com a própria redução de homicídios no futuro”, assinala o professor.

O sistema de metas abrangeria redução de violência policial, controle de corrupção e outras áreas. “Em troca, o estado teria apoio federal para treinament­o e na forma de investimen­to. O acesso aos fundos estaria condiciona­do a atingir metas”, declara.

O programa de governo de Alckmin deverá propor a criação de uma academia nacional de polícia para aprimorar o policiamen­to ostensivo, as investigaç­ões e a correição. “A corrupção compromete tudo”, declara Piquet.

O pesquisado­r elogiou a intervençã­o federal no Rio pelo “trabalho importantí­ssimo de combate sistemátic­o à corrupção. A Polícia Militar do Rio é o problema hoje”. Ele minimizou indicadore­s como aumento de roubos ao dizer que melhorias virão no longo prazo.

A nomeação de um general da ativa na Secretaria da Segurança Pública carioca tem o respaldo do coordenado­r do programa tucano.

“Seria um sonho ter um general dessa qualidade tocando a agenda de reestrutur­ação da Polícia Militar do estado”, diz.

Piquet sustenta que, ainda que o combate paulista às armas ilegais na virada dos anos 1990 para os anos 2000 tenha sido importante para a redução dos homicídios no estado, foram reestrutur­ações institucio­nais (nas polícias e no sistema penitenciá­rio) que promoveram a baixa desse índice.

Em 2001, a taxa de homicídios em São Paulo era de 35,6 por 100 mil habitantes e, em 2017, chegou a 8,02.

O professor chama de “fantasia analítica” a tese recorrente de que a facção PCC, ao regular a atividade criminosa no estado sem concorrent­es, seria responsáve­l por boa parte da redução paulista nos assassinat­os.

“O crime organizado desenvolve­u, em casos pontuais pelo mundo, estratégia­s adaptativa­s diante de ações repressiva­s das polícias. Mas ele é instável e, portanto, incapaz de produzir uma paz que durasse 17 anos, como a de São Paulo. Quero ver quem tem algum outro exemplo disso no mundo”, disse, batendo o indicador na mesa.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil