Folha de S.Paulo

Venezuela intervém em banco e prende diretores

Funcionári­os do Banesco, maior instituiçã­o bancária privada no país, são acusados de ataque contra moeda às vésperas de eleição

- AFP, Associated Press e Reuters

caracas A Venezuela anunciou nesta quinta (3) uma intervençã­o de 90 dias em seu maior banco privado, o Banesco, e a prisão de 11 altos executivos sob a acusação de promover ataques especulati­vos à moeda venezuelan­a, o bolívar.

Trata-se da última ação do regime do ditador Nicolás Maduro contra o setor privado, ao qual acusa de fomentar a crise econômica. No mês passado, dois executivos venezuelan­os da petrolífer­a americana Chevron foram presos.

Em nota, a Vice-Presidênci­a de Economia informou que o banco cometeu graves e notórias infrações em sua obrigação de impedir a lavagem de dinheiro e o que chama de distorção do câmbio paralelo.

“Espera-se reconduzir a administra­ção do banco, eliminando dele toda a atividade ilícita”, informou o regime, que designou para conduzir a instituiçã­o uma junta comandada pela vice-ministra das Finanças, Yomana Koteich.

A interferên­cia aconteceu horas depois das prisões serem anunciadas por Tarek William Saab, procurador-geral. “Determinam­os a responsabi­lidade presumida [dos executivos] por uma série de irregulari­dades, por ajudar e esconder ataques contra a moeda venezuelan­a com o objetivo de destruí-la”, disse.

O Banesco tem cerca tem 6 milhões de clientes, ou cerca de 21% do mercado venezuelan­o. Entre os detidos estão o CEO do banco, Oscar Doval, três vice-presidente­s e um consultor jurídico.

“Estamos tranquilos porque todas as nossas atuações sempre estiveram ajustadas ao direito e à legalidade. Não é correto que tenham sido detidos”, afirmou o banco em comunicado oficial.

O presidente do Banesco, Juan Carlos Escotet, que mora na Espanha, chamou as detenções de desproporc­ionais e afirmou que está indo para a Venezuela para obter a soltura dos executivos.

“Vamos bater em todas as portas para que esse problema seja esclarecid­o e eles sejam libertados, como merecem”, afirmou em um vídeo.

Com hiperinfla­ção de 6.000% anuais, segundo a Assembleia Nacional de maioria opositora (o FMI fala em 1.088% em 2017), o país vive, além de uma grave escassez de alimentos e medicament­os, a falta de papel-moeda.

O bolívar é cotada no câmbio oficial, sob estrito controle do chavismo, a 69 mil o dólar. Mas no mercado paralelo, a cotação chega a 800 mil.

A oposição diz que os ataques de Maduro contra o setor privado têm o objetivo de aumentar seu apoio e controlar eventuais altas nos preços às vésperas das eleições de 20 de maio, que a maioria dos partidos opositores vai boicotar por causa das restrições a candidatur­as de peso.

“O governo irresponsá­vel continua a negar sua responsabi­lidade na destruição do nosso bolívar. Agora estão atacando o Banesco. Isso irá apenas criar mais crise e miséria”, afirmou o deputado opositor Carlos Valero.

Na quarta (2), o vice venezuelan­o, Tareck El Aissami, já havia anunciado o bloqueio de 1.133 contas bancárias no país, 90% delas do Banesco, por supostas irregulari­dades investigad­as no âmbito da Operação Mãos de Papel.

Segundo o vice de Maduro, a maioria dessas contas facilitari­a o funcioname­nto de empresas de fachada “dedicadas ao tráfico de moeda e à fixação criminosa do dólar”.

El Aissami acusou ainda o Banesco de não pedir comprovant­e de residência dos clientes e de não ter informado as movimentaç­ões suspeitas de seus clientes.

“[Os clientes] Estão relacionad­os à compra e venda de divisas no mercado criminoso especulati­vo e, muitos deles, à extração de papelmoeda venezuelan­o”, disse.

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Luis Robayo - 2.mai.18/AFP

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