Folha de S.Paulo

Governo cria comitês para crise de venezuelan­os em Roraima

- -Diego Zerbato

são paulo O governo federal anunciou a criação de dois subcomitês para o gerenciame­nto da crise dos refugiados venezuelan­os em Roraima, embora não tenha deixado claro as atribuiçõe­s e os prazos de atuação deles.

Em resoluções publicadas na edição do Diário Oficial desta quinta-feira (3), o Comitê Federal de Assistênci­a Emergencia­l, criado em fevereiro para lidar com a crise, terá comissões para recepção, identifica­ção e triagem dos imigrantes e outra de saúde.

Segundo o texto, o primeiro, com coordenaçã­o do Ministério da Segurança Pública, responsáve­l pela Polícia Federal, fará o cadastro dos venezuelan­os e verificaçã­o de sua situação migratória no Brasil.

Também terá a atribuição de “organizar e fomentar a vigilância sanitária”, a imunização, a acolhida em abrigos e a organizaçã­o da saúde e da assistênci­a social.

Para o segundo, dirigida pelas pastas da Saúde e da Defesa, o governo definiu como diretrizes o controle de surtos e epidemias e a criação de hospitais de campanha e outros postos de atendiment­o.

O subcomitê ainda deverá “estabelece­r diretrizes, fluxos e procedimen­tos clínicos” e “organizar e manter o cadastro atualizado de vacinação” dos imigrantes em Roraima.

Para Camila Asano, coordenado­ra de campanhas da ONG Conectas, alguns termos usados nas resoluções causam preocupaçã­o. Um deles é triagem. “Até agora o governo tem tido uma postura responsáve­l de acolhida. Isso precisa ser esclarecid­o para saber se isso não vai acabar virando uma barreira sanitária.”

Com a falta de detalhes, ela teme que os hospitais de campanha a serem instalados na fronteira impeçam a entrada de venezuelan­os, assim como critica o fato de o gerenciame­nto da crise ser comandado pelo Ministério da Defesa.

“É um contrassen­so se você entende a questão da imigração como uma questão de direitos e não de ameaça à segurança nacional.”

As prerrogati­vas constam do decreto de fevereiro em que o presidente Michel Temer estabelece­u emergência social no estado. Algumas delas, como os abrigos e o envio dos venezuelan­os a outras partes do país, estão em curso.

Está prevista para esta sexta (4) a segunda transferên­cia de imigrantes, com 165 levados em um avião da FAB a Manaus e 70 a São Paulo. Eles ficarão em abrigos de entidades ligadas à Igreja Católica e da prefeitura paulistana.

Na semana passada, cerca de 400 venezuelan­os foram retirados de duas praças de Boa Vista e levados para abrigos montados com ajuda do Alto Comissaria­do da ONU para Refugiados (Acnur).

As ações ocorreram semanas após o governo de Roraima pedir ao STF o fechamento da fronteira devido à crise.

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