China toma medidas para não perder influência na Coreia do Norte para EUA
Chanceler chinês visita o país e reforça papel de benfeitor de Pequim, antes de encontro com Trump
pequim Enquanto a Coreia do Norte realiza reuniões de cúpula com seus arqui-inimigos —primeiro a Coreia do Sul e em breve os Estados Unidos—, a China corre para não perder influência.
Seu ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, retornou na quinta-feira (3) a Pequim após dois dias na capital norte-coreana, Pyongyang, onde se reuniu com o ditador Kim Jong-un, reforçando a posição da China como a melhor amiga do Norte.
A China mantém uma vantagem econômica substancial (compra mais de 80% das exportações norte-coreanas), mas na concorrência estratégica intensificada entre ela e os EUA é preocupante que Kim esteja usando essa rivalidade para reduzir a dependência de Pequim.
Uma das tarefas de Wang era tentar impedir que Kim se inclinasse para os EUA sob o presidente Donald Trump, segundo especialistas chineses.
“Pequim provavelmente gostaria de garantir que Pyongyang não desenvolverá um relacionamento mais estreito com Washington do que com Pequim”, disse Zhao Tong, especialista em Coreia do Norte no Centro Carnegie-Tsinghua para Política Global.
“A visita do ministro das Relações Exteriores chinês, a primeira em 11 anos, parece fazer parte desse esforço.”
Wang pode ter passado uma mensagem cuidadosa, lembrando o Norte de que a China foi sua verdadeira amiga apesar do caminho duro nos últimos seis anos desde que Kim chegou ao poder.
“Wang Yi tinha uma missão: coordenar-se com os norte-coreanos sobre como conversar com Trump”, disse Xia Yafeng, historiador chinês na Universidade de Long Island (EUA).
“Ele pode aconselhar os norte-coreanos, mas não pode ameaçá-los. Ele pode dizer: ‘Tomem cuidado quando falarem com Trump. Nós estaremos sempre ao seu lado’.”
O líder chinês, Xi Jinping, deverá ir a Pyongyang depois da reunião Trump-Kim, prevista para o fim de maio ou junho. Um dos deveres do chanceler foi confirmar os detalhes da visita de Xi, segundo analistas chineses.
A China seguiu a contragosto a exigência de Washington no ano passado de que apoiasse as sanções da ONU destinadas a negar ao Norte reservas cambiais críticas da venda de carvão, minérios, pescado e vestimenta.
Mas o desejo de Pequim de punir a economia norte-coreana provavelmente está perdendo força, disse Zhao.
Já há sinais de que a China está tentando atenuar algumas das restrições econômicas. Empresários na região nordeste da China, que faz fronteira com a Coreia do Norte, dizem que alguns trabalhadores norte-coreanos estão retornando ao país com vistos de curto prazo e que esperam que o comércio se reforce em breve.
Pequim ficou irritada e surpresa ao ser excluída de vários itens na declaração conjunta que as Coreias do Norte e do Sul emitiram na semana passada, após reunião de cúpula.
As duas Coreias disseram que iniciariam negociações com Washington para um tratado que ponha formalmente fim à Guerra da Coreia (1950-), que teve apenas um armistício assinado em 1953.
A declaração mencionou conversas “trilaterais ou quadrilaterais”. Se forem “trilaterais”, incluirão as Coreias e os EUA, mas não a China, que enviou milhões de soldados para lutar ao lado do Norte na guerra. A China retirou todas as tropas do país em 1958.
Além disso, a China não foi convidada a enviar observa- dores à destruição do sítio de testes nucleares Punggye-ri, na Coreia do Norte, neste mês.
Kim disse que convidaria especialistas sul-coreanos e americanos para testemunhar o fechamento, gesto que, segundo autoridades americanas, teria pouco impacto nos programas nuclear e de mísseis balísticos do Norte.
Apesar disso, a visita do chanceler chinês foi simbolicamente importante, diz Xia.
No auge do relacionamento entre a China e a Coreia do Norte, quando o avô de Kim, Kim Il-sung (1912-94), estava no poder, eram frequentes as visitas de alto nível entre os dois países. O avô visitou a China muitas vezes. O pai, Kim Jong-il (1941-2011), fez sete viagens de 2000 a 2011.
Quando Kim Jong-un assumiu, em 2011, as relações começaram a descarrilar, sobretudo após ele mandar matar desafetos coreanos perto de Pequim. Kim fez uma visita surpresa a Pequim em março, aparentemente por iniciativa própria, em busca de se mostrar um interlocutor par.
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