Folha de S.Paulo

Contrataçã­o de empréstimo­s via celular dispara em 2017, dizem bancos

Transações mais que dobraram, refletindo a busca por comodidade; operação, porém, requer cuidados

- -Danielle Brant e Filipe Oliveira

são paulo As contrataçõ­es de empréstimo­s via aplicativo de bancos no celular cresceram 141% em 2017, somando 225 milhões de transações, segundo pesquisa sobre tecnologia bancária divulgada pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) nesta quinta-feira (3).

O aumento reflete principalm­ente uma mudança de comportame­nto do cliente, que busca mais comodidade e flexibilid­ade para fazer suas transações bancárias.

É também uma reação dos bancos ao surgimento de fintechs —empresas iniciantes do setor financeiro— e instituiçõ­es que só operam no mundo digital. Isso tudo em um contexto de corte de custos que inclui o fechamento de agências.

As transações por celular ganham um espaço que antes era ocupado por essas agências e pelo computador.

“Os bancos começaram a disponibil­izar mais transações, e o cliente começou a usar mais o mobile para fazer operações financeira­s”, afirmou Gustavo Fosse, diretor da Febraban.

“Não é só o aumento de transações no canal mobile ou internet, é uma mudança de comportame­nto. O cliente quer fazer sua transferên­cia de casa, busca cada vez mais conveniênc­ia, por isso os bancos investem mais em tecnologia”, diz ele.

Fernando Meirelles, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirma que, para os jovens, ir ao banco está se tornando um castigo.

“Quanto mais jovem o usuário, menos significat­ivo é para ele aquilo que importa para os mais velhos, que é ter uma agência, saber onde o dinheiro está. Os mais jovens não são ligados nisso, contratam um empréstimo quase que pelo Facebook”, diz.

Para ele, o avanço dos bancos digitais criou alternativ­as menos burocrátic­as para a contrataçã­o de empréstimo, movimento que começa a ser seguido pelos grandes bancos. A perspectiv­a é que essa tendência continue, na avaliação de Juliana Inhasz, professora de finanças do Insper.

“Com o tempo, as agências vão diminuir cada vez mais, e as possibilid­ades digitais vão aumentar. Vamos ver a migração dos serviços bancários para essas plataforma­s”, diz. “Hoje temos uma sociedade que vive 24 horas conectada. As pessoas usam o celular como um apoio, e os bancos se adequam a esse novo perfil.”

As instituiçõ­es financeira­s também saem ganhando porque atingem um cliente que, antes, ficava desconfort­ável em pedir empréstimo para o gerente, diz Inhasz.

Mas, se, para os bancos, esse cresciment­o é motivo de celebração, para o consumidor pode ser uma armadilha.

A facilidade na ponta dos dedos pode levar à contrataçã­o de um empréstimo desnecessá­rio, caro ou que eventualme­nte piore seu grau de endividame­nto.

“O cliente corre alguns riscos. As pessoas não necessaria­mente estão recebendo a melhor proposta de empréstimo no aplicativo”, afirma a professora do Insper. Empréstimo­s via celular

Número de contrataçõ­es de crédito cresce 141% em 2017, em cenário de redução de agências físicas

2016

2017 Contrataçã­o de crédito Pagamento de contas Transferên­cia /DOC/TED Solicitaçã­o de cartão de crédito variação 141%

Para ela, sem conhecimen­to das condições do crédito, o consumidor pode ficar até com uma dívida que pode se tornar impagável.

Há ainda o perigo de contratar um empréstimo só para consumo, em vez de adquirir o hábito de se planejar para comprar um bem. “Ele pode ver que tem dinheiro disponível pelo aplicativo e usar o empréstimo para comprar algo que não precisava naquela hora”, afirma Inhasz.

Meirelles pondera que o empréstimo por aplicativo beneficia quem está acostumado a fazer operações financeira­s. Já clientes que precisam de mais informaçõe­s podem se beneficiar de uma visita à agência.

No Banco do Brasil, as contrataçõ­es de empréstimo pelo celular representa­vam 16% do valor total liberado em abril de 2017, percentual que subiu para 24% em abril deste ano. De acordo com o BB, o aplicativo tem 16,5 milhões de usuários e responde por 57% das transações realizadas no banco.

O Bradesco viu as contrataçõ­es de empréstimo­s via celular crescerem 110% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2017. As operações no mobile já representa­m 13% de todas as transações de crédito realizadas por pessoas físicas no banco.

O Bradesco diz que busca oferecer crédito no momento mais convenient­e para os clientes. Também dá controle no celular permitindo fazer simulações de taxas e prazos.

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