Folha de S.Paulo

Poder digital

Devemos temer o imobilismo, não as inovações; elas só punem quem não se prepara

- Pedro Luiz Passos Empresário e conselheir­o da Natura STQQ S Samuel Pessôa | Marcia Dessen | Nizan Guanaes; Benjamin Steinbruch | Alexandre Schwartsma­n | Laura Carvalho | Nelson Barbosa; Pedro Luiz Passos | Marcos Sawaya Jank; Rodrigo Zeidan

Uma onda de ansiedade contagia os meios empresaria­is, políticos, acadêmicos e sociais nas economias avançadas e emergentes sobre as implicaçõe­s do ritmo acelerado das novas tecnologia­s, especialme­nte a automação do trabalho e o processame­nto da informação. O mundo já não é como muitos conheciam e vem mudando com rapidez alucinante.

Pelo domínio da inteligênc­ia artificial, IA, coração da robótica e de engenhos como veículo com direção autônoma, loja sem vendedor e sem

D

S caixa, telemedici­na, banco no celular, se batem a China, cuja meta é alcançar esse objetivo até 2025, e os Estados Unidos, que ameaçam os chineses com retaliaçõe­s, acusando-os de tungar propriedad­e intelectua­l.

O poder dos algoritmos do mundo digital se tornou ubíquo, rompendo modelos de negócios e relações do trabalho. O sucesso exige outros recursos, envolvendo modificaçõ­es profundas da educação, da gestão dos governos e das empresas, mas esse debate mal começou no Brasil, onde as decisões do Supremo Tribunal Federal e as pesquisas de intenção de voto parecem preocupar mais que o desafio concreto das mutações tecnológic­as.

Estudos de instituiçõ­es renomadas, como as universida­des de Oxford e MIT (Instituto de Tecnologia de Massachuse­tts), da OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico), das consultori­as McKinsey, Accenture, BCG, Bain, todos coincidem na conclusão de que estão em curso mudanças embasadas pela tecnologia que já repercutem na vida cotidiana, na cultura e nas relações econômicas e sociais.

O mais recente desses estudos, do Council on Foreign Relations, CFR, que reúne empresas líderes dos EUA com negócios globais, diz que, “para prosperar e liderar”, serão necessária­s “novas formas de enfrentar os desafios da força de trabalho do século 21”.

Ao todo, segundo o estudo da OCDE, metade dos empregos existentes é altamente vulnerável em 32 países avaliados, de Chile e México a França e EUA. Brasil ficou de fora, mas o cenário é parecido, como sugerem pesquisas setoriais. Com alto desemprego estrutural, muita burocracia e educação sofrível, nosso desafio é ainda maior.

A aceleração das inovações alterará ou eliminará muitos empregos. Outros novos serão criados, mas exigirão maior nível de educação e treinament­o.

“Na ausência de políticas atenuantes, a automação e a IA podem exacerbar desigualda­des”, diz o estudo do CFR. No Brasil, o ensino técnico terá de ter prioridade máxima (até para dar futuro aos jovens) e estar mais perto das demandas do mercado de trabalho.

A facilitaçã­o aos negócios nascentes é outra prioridade, já que a experiênci­a no mundo mostra que as startups é que impelem as novas oportunida­des, inclusive de emprego, não tapete vermelho estendido a grupos estabeleci­dos. Abertura ao comércio, em vez de subsídios à produção doméstica, semelhante­s aos previstos no programa Rota 2030, por exemplo, é o que pode fazer toda a diferença.

Tanto o país como as empresas precisam reinventar seus programas e temer o imobilismo, não as mudanças, que podem demorar, mas, quando chegam, punem sem dó os desprepara­dos. O cemitério de negócios e de nações outrora bem-sucedidos nos alerta sobre os riscos do que está por vir se nada for feito.

Será promissor ou não dependendo de nossas decisões. Os masters do mundo estão na corrida acenada pelo presidente Vladimir Putin, da Rússia: “Quem liderar a IA governará o mundo”. Para nós, já basta estarmos no jogo, garantindo progresso e mobilidade social.

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Joel Silva/Folhapress Máquinas agrícolas expostas na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP)

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